A oferta de crédito no quarto trimestre deste ano deve ser “mais flexível para todos os segmentos” na comparação com os três meses anteriores. A exceção deve ficar com o crédito habitacional para pessoas físicas (PF). É o que mostra a Pesquisa Trimestral de Condições de Crédito (PTC), conduzida pelo Banco Central (BC) com base em respostas de instituições financeiras, divulgada nesta quinta-feira. As informações foram coletadas entre 25 de setembro e 6 de outubro.

Além da oferta mais flexível, as instituições esperam que a demanda por crédito continue “em níveis positivos para todos os segmentos”, principalmente por causa da “redução nas taxas de juros”, sempre em comparação com os três meses anteriores. Desde junho, o BC cortou a taxa básica de juros de 13,75% para 12,25% ao ano. Já a “inadimplência deve ficar relativamente estável”, na percepção dos bancos.

No terceiro trimestre, por sua vez, as condições de crédito para pessoa jurídica (PJ) “foram mais flexíveis” do que para pessoa física, com destaque para o segmento de grandes empresas. Nesse grupo, fatores apontados como negativos para a oferta de crédito no segundo trimestre “tiveram uma melhora generalizada”. Entre eles, estão “a percepção de risco do cliente e as condições gerais da economia”.

Já para as micro, pequenas e médias empresas, os fatores de oferta negativos do segundo trimestre, como “o nível de tolerância ao risco”, tornaram-se “menos desfavoráveis” agora.

No caso do crédito para PF voltado ao consumo, surgiram sinais de melhora no terceiro trimestre, principalmente no que diz respeito ao custo e à disponibilidade de funding.

“Mas continua a preocupação com o comprometimento de renda do consumidor e inadimplência”, diz a pesquisa do BC. Para o quarto trimestre, “espera-se continuidade da melhora em relação a custo/disponibilidade de funding e observam-se sinais de redução da preocupação com comprometimento de renda e manutenção da preocupação com inadimplência”.

No crédito habitacional para a pessoa física, a pesquisa apontou que a percepção sobre os fatores de oferta continuou negativa. O setor enfrenta uma pressão no funding tradicional por causa dos saques na caderneta de poupança. Além disso, essa modalidade de crédito é muito sensível às taxas de juros e ao comprometimento de renda da população. No entanto, de acordo com o levantamento, a expectativa é que haja uma redução na restrição relacionada ao custo e à disponibilidade de recursos para o financiamento imobiliário no quarto trimestre.

Neste ano, principalmente no primeiro semestre, a alta da inadimplência no segmento de pessoas físicas e casos de empresas com problemas — sobretudo Americanas — levaram os bancos a se tornar mais restritivos na oferta de crédito. Parte desse cenário era um efeito esperado do aperto monetário.

Para Nicola Tingas, economista-chefe da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), renegociações de dívidas realizadas pelas instituições ao longo deste ano, sejam ou não relacionadas ao Desenrola (programa de renegociação do governo federal), trazem uma “melhora do cenário para o último trimestre”.

“Embora a taxa de juros continue elevadíssima em termos nominais e reais, a queda da Selic também traz possibilidade de rolagem um pouco melhor das dívidas”, afirma.

Além da troca de dívidas mais caras por mais baratas, o crédito a pessoa física também está sendo usado “para o consumo popular”. Segundo Tingas, “as condições de crédito para o ano que vem certamente serão melhores”.

O BC realiza a PTC desde 2011, mas só nesta quinta-feira divulgou publicamente os resultados. Na pesquisa, os respondentes avaliam as condições de oferta e demanda de crédito, incluindo seus principais fatores, observadas no último trimestre e as expectativas para o trimestre seguinte.

A publicação será a partir de agora publicada uma semana antes da reunião do Comitê de Estabilidade Financeira (Comef). Na semana posterior ao Comef, o BC divulgará a também inédita Pesquisa de Estabilidade Financeira (PEF). “A publicação desses relatórios insere-se no esforço do BC de ampliação da transparência das suas ações, em linha com a dimensão Transparência da Agenda BC#”, afirma a instituição, em nota.


Fonte: Valor Econômico - Finanças, por Estevão Taiar e Jéssica Sant'Ana, Valor — Brasília, 16/11/2023