O setor imobiliário terminou o primeiro trimestre com otimismo mais moderado do que o do fim de 2020. É o que aponta levantamento realizado pela Deloitte Brasil a pedido da Associação Brasileira das Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc). “Houve pequena desaceleração da procura por imóveis e da venda de unidades dos padrões médio e alto, mas a demanda segue aquecida”, diz Claudia Baggio, sócia da Deloitte que lidera a área de mercado imobiliário.

Por um lado, incertezas como o aumento dos óbitos decorrentes da pandemia de covid-19 se refletiram, negativamente, no setor, conforme a executiva. “Mas as variáveis de crédito e juros continuam a garantir o bom desempenho”, diz a diretora.

Na sondagem, foram entrevistadas 48 associadas da Abrainc - 33% com foco no programa habitacional Casa Verde e Amarela, 31% direcionadas para os padrões médio e alto, e 36% com atuação em todos esses segmentos - entre 25 de março e 9 de abril. As empresas têm atuação nacional.

A pesquisa apontou que a maioria das incorporadoras tem boas expectativas em relação a lançamentos e aquisições de terrenos. Noventa e sete por cento das entrevistadas informaram intenção de apresentar projetos ao mercado, no período de três a 12 meses, enquanto a fatia que pretende comprar terrenos foi de 83%. Há tendência de aumento das vendas, nos próximos 12 meses.

“As empresas estão tirando os projetos da gaveta. A demanda por imóveis cresceu, com mais pessoas trabalhando de casa. Investidores também estão olhando para o setor, em busca de melhor rentabilidade”, diz a executiva.

O presidente da Abrainc, Luiz Antonio França, ressalta que a compra de imóveis é “sempre um porto seguro”. “Trata-se de boa alocação de recursos para quem quer investir ou morar”, diz. França destaca que a pandemia trouxe impulso para que parte das pessoas que não pensavam em trocar de imóvel passassem a buscar um lugar melhor para morar.

Rafael Franco de Camargo, especialista em mercado imobiliário da Deloitte, ressalta que há um “boom” imobiliário em casas de praia e do interior. “Em muitos casos, a segunda moradia virou primeira”, diz Camargo.

O maior desafio do setor continua a ser a pressão de custos, com destaque para os aumentos dos preços de materiais de construção, conforme a pesquisa. “A questão dos custos está, cada dia, mais complexa. Há um problema mundial de elevação de tudo o que está relacionado a commodities”, diz o presidente da Abrainc, acrescentando que o câmbio contribui para acentuar os aumentos.

“A inflação de custos é o principal calcanhar do mercado, e o reflexo disso nos preços dos imóveis ainda não foi mensurado”, diz Camargo. O levantamento indicou que os valores das unidades tendem a aumentar, principalmente nos padrões médio e alto.

 

Fonte: Valor Econômico - Empresas, por Chiara Quintão — De São Paulo, 12/05/2021