Juros futuros sobem e mercado afasta chance de corte da Selic em janeiro

Os números do mercado de trabalho mais fortes do que o esperado no Caged, aliados à postura mais conservadora adotada na quarta-feira pelo presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Jerome Powell, fizeram os juros futuros encerrarem em alta firme ontem, com avanço de até 10,5 pontos-base (0,105 ponto percentual).

O movimento foi potencializado ainda pela atuação mais “agressiva” do Tesouro Nacional em leilão. Se até meados da tarde de ontem a curva inclinava, à medida que os agentes reagiam à adição de prêmios de risco por conta do BC americano e do leilão, os dados mais fortes que o esperado do Caged fizeram o movimento se inverter e a curva achatar, com as taxas de curto prazo avançando mais que os vértices longos, com os investidores reduzindo a expectativa por cortes da Selic para janeiro.

Encerrados os negócios, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) com vencimento em janeiro de 2027 saltou de 13,82%, do ajuste anterior, para 13,925%; e a do DI de janeiro de 2029 avançou de 13,12% para 13,195%.

O avanço mais expressivo dos juros futuros afetou também o Ibovespa. No entanto, a alta das ações da Vale, do Santander e do Banco do Brasil ofereceu suporte para o índice driblar a abertura da curva a termo e o mau humor externo. Com isso, a principal referência acionária local conseguiu renovar o recorde de fechamento nominal pela quarta sessão consecutiva, ao encerrar aos 148.780 pontos, com leve avanço de 0,10%, distante da máxima intradiária histórica vista ontem de 149.234 pontos. A última vez em que houve uma sequência de quatro recordes seguidos da bolsa tinha sido em dezembro de 2023, segundo a B3.

O dólar à vista, por sua vez, encerrou em alta, acompanhando a dinâmica global da moeda americana, em meio a ajustes de posição dos investidores por conta do viés mais conservador do Fed.

Porém, o destaque da sessão ficou mesmo para os juros. Antes da divulgação do Caged, os investidores colocavam nos preços uma chance majoritária de que o BC reduzisse a Selic já em janeiro, com 15 pontos-base (ou 0,15 ponto percentual) precificados em cortes. No entanto, no fim do dia, essa medida diminuiu para apenas 9 pontos-base. Já no mercado de opções digitais de Copom, a probabilidade de que a taxa básica de juros se mantenha em 15%, ao menos até a primeira reunião do ano que vem, subiu de 50% para 56%.

“O BC tem um desafio de encontrar um cenário confortável para começar a cortar, e o setor de serviços tem deixado isso cada vez mais desafiador”, diz Felipe Tavares, economista-chefe da corretora BGC Liquidez.

O economista aposta que, até janeiro do ano que vem, o Banco Central terá uma expectativa inflacionária ancorada em 3% dentro do horizonte relevante da política monetária, e com isso começará a cortar com um movimento mais cauteloso. “Vai cortando de 0,25 em 0,25 ponto, para calibrar [o aperto monetário].”

De qualquer forma, para Tavares, a postura da autoridade monetária brasileira deve seguir bastante conservadora no curto prazo. “Ele conquistou o direito de nós não acharmos que vai ficar ‘dove’ [menos inclinado ao aperto monetário]. O BC nem titubeou nos últimos meses. Diferentemente do Fed, onde os diretores têm opiniões distintas, o Copom tem um tom único”, compara o economista.

Já no cenário internacional, as bolsas de Nova York fecharam em queda, após balanços trimestrais mistos do setor de tecnologia, e com a perspectiva de que mais um corte de juros nos Estados Unidos neste ano não está mais tão garantido quanto se pensava antes no mercado. O tom mais cauteloso de Powell na decisão de quarta-feira também influenciou o dólar no exterior e os rendimentos dos Treasuries, que tiveram firme alta.

Em Wall Street, o Nasdaq cedeu 1,57%; o S&P 500 recuou 0,99%; e o Dow Jones perdeu 0,23%. Já o índice DXY, que mede o desempenho do dólar frente a uma cesta de outras seis moedas fortes, tinha alta de 0,32%, aos 99,54 pontos, aproximando-se novamente do patamar de 100 pontos, perto do fim do pregão. No fim do dia, os rendimentos dos Treasuries de dois anos subiam para 3,623%, de 3,604% no fechamento anterior, enquanto as taxas do papel de dez anos avançavam para 4,099%, ante 4,076% na última sessão.

Fonte: Valor Econômico – Por Gabriel Caldeira, Bruna Furlani, Maria Fernanda Salinet, Luana Reis e Arthur Cagliari — De São Paulo – 31/10/2025

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