As construtoras e incorporadoras estão intensificando a contratação de empresas especializadas em obras industrializadas para acelerar o prazo de entrega dos empreendimentos e reduzir os custos. O aumento da mão de obra, causado pela escassez de profissionais da área, também tem alavancado a busca por esse método.
De acordo com a pesquisa “Sondagem da Construção em Sistemas Industrializados”, realizada pela FGV/Ibre para a Modern Construction Show, feira que ocorre em outubro em São Paulo, das 510 empresas ouvidas, 64,5% afirmaram usar esses sistemas.
Dentre elas, 81,5% citaram o prazo de conclusão como uma motivação. O tipo mais utilizado de método industrializado são kits elétricos, que facilitam a instalação dessa etapa da obra, e as estruturas pré-fabricadas de concreto.
Antonio Cardoso, presidente da companhia Sky Master, dona da marca LigaFácil, diz que um operador leva, em média, 15 minutos para concluir a instalação do kit de esgoto de um apartamento, chamado de “aranha”, enquanto o sistema tradicional leva cerca de uma hora. A empresa é especializada desde 2015 em kits elétricos e hidráulicos.
Segundo Cardoso, os próprios profissionais, muito demandados pelo mercado, devido à grande quantidade de obras em andamento, preferem trabalhar com os sistemas industrializados, para conseguir tocar mais empreendimentos simultaneamente.
O executivo afirma que as vendas dos kits crescem 20% ao ano. Essa área trouxe faturamento de R$ 5,9 milhões para a Sky Master em 2023. A previsão para 2024 é de R$ 7 milhões.
O uso dos kits é o estágio inicial de industrialização, principalmente quando se trata de prédios residenciais e comerciais, já que ele pode ser inserido em métodos construtivos tradicionais, sem exigir uma mudança completa do jeito de fazer a obra.
O segundo método mais citado na pesquisa feita pela FGV/Ibre, o de estruturas pré-fabricadas de concreto, altera a lógica da construção. A Cassol é especializada nesse segmento.
Com três fábricas em operação, onde produz as peças de concreto que transporta já prontas aos canteiros, para serem montadas, a empresa foi contratada para construir parte do Beyond The Club, clube com piscina para surfe que está em obras em São Paulo, no terreno do antigo hotel Transamérica, e que tem entre os sócios o BTG Pactual e a incorporadora KSM.
Felipe Cassol, CEO do negócio, conta que a necessidade de fazer uma obra mais rápida pesou para a escolha da sua empresa. O clube deve ser inaugurado no ano que vem.
O projeto, contudo, não foi pensado desde o início para receber métodos industrializados de construção. A parte que a Cassol está erguendo é a que pode ser adaptada ao sistema.
“Todo mundo pega obra concebida para ser feita in loco e quer industrializar, mas os arquitetos e engenheiros precisam se adaptar, é mudança cultural”, afirma Cassol. O restante do projeto é feito pelo método tradicional. Os dois modelos convivem no canteiro.
Ali, a diferença de movimentação de pessoal é nítida. A obra da Cassol tem uma média de 13 funcionários, 10% do necessário na obra tradicional. A construção, com seis pavimentos e 25,6 mil m2, levará 10 meses para ficar pronta. O prazo total da obra do clube é de 23 meses. Os blocos da Cassol são transportados da fábrica em Monte Mor (SP).
A empresa trabalha hoje com metade da sua capacidade instalada, de 21,8 mil m3 ao mês. Para Cassol, uma maior adoção do concreto pré-fabricado no setor residencial ajudaria a fazer o negócio crescer mais. A empresa está em conversas para projetos na área.
“A construção industrializada está para a construção civil como o e-commerce estava para o varejo há 15 anos”, afirma o empresário, ressaltando que o setor ainda vai amadurecer no país.
O terceiro método de industrialização mais adotado é o drywall, usado para erguer as paredes internas das obras.
A construção em aço, chamada de steelframe, é o quarto método mais usado para industrializar as obras, segundo a pesquisa. A SteelCorp foi fundada para promover esse tipo de projeto. O presidente Daniel Gispert afirma que é possível fazer uma obra na metade do tempo necessário sobre os métodos tradicionais.
O sistema, que combina chapas de metal com revestimentos, também tem evoluído. Gispert conta que, desde 2019, a empresa reduziu de 55 para 25 os quilos de aço necessários por metro quadrado, o que barateia a obra.
A velocidade da obra aumenta a produtividade, mas nem todo projeto combina com um prazo mais curto de construção. Quando há financiamento envolvido, como em obras habitacionais, um prazo mais longo se adequa melhor à capacidade de pagamento dos compradores.
Para Gispert, isso poderia ser resolvido com o adiamento do início das obras. “Faço um início tardio, o incorporador vai recebendo e começa a obra daqui a um ano, para terminar em seis meses.”
O sistema da SteelCorp vai ser usado para fazer 500 casas em Canoas (RS), para afetados pelas enchentes no Sul. A empresa prevê iniciar as obras em 40 dias, e afirma ser possível construir uma casa de 44 m2 em 5 dias.
O executivo afirma que o aumento do custo da mão de obra, causado por uma escassez de profissionais, tem alavancado a busca por métodos industrializados. Mas entre os desafios para a sua adoção, de acordo com a pesquisa, está encontrar mão de obra especializada, e não apenas para trabalhadores de base.
Ana Maria Castelo, coordenadora de projetos da construção da FGV/Ibre, ressaltou, no evento de lançamento da pesquisa, que também faltam projetistas com conhecimento em métodos industrializados.
Esse é um dos motivos para a incorporadora Plaenge tentar encontrar outras maneiras de ampliar a produtividade e reduzir o uso de mão de obra. Alexandre Fabian, sócio-diretor da empresa, alerta que podem faltar pedreiros, fornecedores de material e assistência técnica para projetos que adotam métodos construtivos novos.
A Plaenge, que fez R$ 1,2 bilhão em lançamentos de janeiro a julho e atua no Brasil e no Chile, optou por coordenar melhor o fluxo das equipes nas obras, com ajuda da Porsche Consulting. Só com isso, reduziram em cerca de 15% o número de horas de trabalho por funcionário para cada metro quadrado construído.
Outra solução é prevenir erros, que exigem mão de obra e materiais para serem sanados, com o uso de BIM (modelagem da informação da construção, na sigla em inglês). É um software que analisa os projetos e aponta onde os problemas ocorrerão.
O setor da construção civil ainda tem apenas 70% da produtividade da indústria de transformação, destacou Castelo.
Fonte: Valor Econômico – Por Ana Luiza Tieghi — De São Paulo, 02/09/2024