O presidente da Caixa Econômica Federal, Carlos Vieira, disse nesta quinta-feira que as medidas adotadas pelo banco para apoiar clientes e governos no Rio Grande do Sul não devem trazer problemas para a instituição. Em meio aos desdobramentos de uma tragédia sem precedentes na região, ele disse que prefere olhar pelo lado das “oportunidades” de financiamento à reconstrução.
“Eu vejo pelo lado da oportunidade. Temos talvez uma oportunidade, o sistema como um todo, de investir algo em torno de R$ 20 bilhões, a construção civil, todo o sistema”, disse a jornalistas após apresentação dos resultados do primeiro trimestre, quando a Caixa lucrou R$ 2,883 bilhões, aumento de 49% em um ano. Vieira havia sido questionado sobre possíveis impactos da calamidade no Estado sobre o balanço do banco.
De acordo com dados apresentados pelo banco, as ações já anunciadas na área de crédito impactam R$ 66,8 bilhões da carteira, ou 5,9% do total de R$ 1,144 trilhão. A principal ação é no campo da habitação, com uma carteira de R$ 52 bilhões impactada. Houve pausa de seis meses nas prestações e acionamento simplificado de seguro.
As mudanças em empréstimos para pessoa física e jurídica, como pausa de seis meses nas prestações, redução da taxa do consignado e carência de até seis meses nas contratações, atingem um volume de R$ 10 bilhões. As medidas destinadas ao crédito rural têm efeito de R$ 2,4 bilhões; as voltadas aos municípios, de R$ 2 bilhões; e as ligadas a hospitais filantrópicos, de R$ 378 milhões. Vieira afirmou ainda que cerca de 50 agências do banco no Estado foram afetadas pelas enchentes.
O presidente da instituição afirmou que a Caixa está em contato com o governo federal para implementar o pacote de apoio anunciado nesta semana, que inclui a criação de Auxílio Reconstrução de R$ 5,1 mil para as famílias cujas casas foram afetadas pelas cheias. De acordo com ele, a instituição também está em fase de regulamentação do procedimento de compra, pelo governo, de imóveis para as famílias gaúchas que perderam suas casas. Ele disse que está sendo feito um levantamento do total de imóveis disponíveis e definição dos critérios de acesso. “Até segunda devemos ter isso definido”, disse.
Durante a coletiva, os executivos do banco reforçaram o alerta que vem sendo transmitido nas últimas divulgações sobre as dificuldades de financiamento na área de habitação. “Estamos trabalhando no limite da capacidade de funding”, disse Vieira, acrescentando que a situação está resolvida em 2024, mas que há dúvidas sobre 2025.
Para ele, se algumas medidas não forem tomadas, o “copo” para o futuro da área está “vazio”. Vieira reforçou que há três pontos importantes a serem discutidos: liberação de compulsório (dinheiro que os bancos depositam no Banco Central), investimentos de fundos de pensão e desenvolvimento do mercado secundário de crédito imobiliário. O último ponto começou a ser tratado com a medida anunciada em abril pelo Ministério da Fazenda, acrescentou.
A carteira de crédito imobiliário da Caixa, que corresponde a 65,9% da carteira total, encerrou o trimestre com um saldo de R$ 754,3 bilhões, crescimento de 14,4% em 12 meses. Foram R$ 51,3 bilhões em contratações no período. Desse total, R$ 35 bilhões foram com recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), alta anual de 74,2%, e R$ 16,3 bilhões com recursos de poupança (SBPE), uma redução de 23,3% na mesma comparação. A Caixa projeta crescimento de 8% a 12% na sua carteira de habitação em 2024.
Em relação à elevação da inadimplência do banco no primeiro trimestre na comparação trimestral, a vice-presidente de riscos, Henriete Sartori, disse que o comportamento está dentro do esperado. Ela afirmou que a alta é explicada pela sazonalidade do primeiro trimestre, quando há concentração de despesas das famílias com compromissos escolares e de impostos.
“A partir do segundo trimestre é esperado um arrefecimento”, afirmou. A inadimplência da carteira de crédito total fechou março em 2,34%, um aumento de 0,18 ponto percentual em relação a dezembro e queda de 0,39 ponto em relação ao mesmo período do ano anterior.
Já o vice-presidente financeiro, Marcos Brasiliano, disse que o banco não tem como meta chegar a um índice de eficiência de 30%, mas que há muito espaço para melhora. No primeiro trimestre, o indicador ficou em 55,5%, de 57,5% um ano antes. Quanto mais baixo o nível, melhor. Ele destacou ainda que o retorno sobre o patrimônio (ROE, uma medida de rentabilidade), de 9%, vem se recuperando. No primeiro trimestre de 2023, o indicador estava em 7,08%.
O vice-presidente de sustentabilidade, Paulo Rodrigo de Lemos, disse ainda que o banco está preparando sua primeira emissão de título verde no exterior. “Na semana que vem temos road show agendado com equipes nos EUA”, afirmou. “Aí vamos entender o apetite, mas queremos fazer em breve essa emissão.”
Fonte: Valor Econômico – Por Mariana Ribeiro, Valor – São Paulo, 16/05/2024