Vamos comentar sobre mobilidade urbana e em particular sobre o atual sistema de transporte publico. Não é necessário ser um grande especialista para observar que o sistema atual, apoiado nos ônibus, não anda para frente em nenhum sentido.

Para começar, porque um ônibus transporta até 70 pessoas, contra, por exemplo, dos 500 passageiros do metrô; o ônibus é um veículo poluente, de operação dispendiosa, lento e desconfortável; e ainda porque o sistema de embarque com passagem a pagar atrasa em até dez vezes o tempo de parada.

Some-se a esses problemas a ampliação sem sentido dos corredores de ônibus, que nada ajudam e muito atrapalham, já que não impedem que os ônibus tenham que parar nos semáforos e ainda congestionam as vias, fazendo muitas vezes com que vários veículos fiquem parados em sequência aguardando o embarque apenas no primeiro ônibus da fila.

Isso, ainda, sem levar em consideração a degradação visual das ruas por onde passam, desvalorizando comércios e residências, como nos bem conhecidos casos dos corredores Rebouças/Consolação, M’Boi Mirim e Nove de Julho, Santo Amaro e outros.

Um paliativo para o problema seriam as faixas exclusivas ou preferenciais, com embarques pré-pagos, sem a presença das dezenas de semáforos de pedestres e com pontos de ultrapassagem, isto com escolha criteriosa das vias, pois uma faixa não colocada pode prejudicar em muito não só os automóveis mais sim os ônibus e pedestres que na realidade são a razão de tudo.

Quanto aos carros, de nada adianta criar campanhas ou limites sem que se criem alternativas. O usuário do automóvel não é um vilão, mas também uma vítima da falta de transporte público de qualidade – alguém que, provavelmente, não gostaria de passar horas preso no trânsito, se tivesse alguma alternativa digna – e que foi incentivado nas últimas décadas por todos os governos a comprar automóveis e combustíveis com subsídios fiscais.

As pessoas deixarão de utilizar os automóveis quando: o transporte público for de excelente qualidade; as empresas pagarem totalmente o transporte para o trabalho dos funcionários (já é assim na Construção Civil); o incentivo para a compra de automóveis e o subsídio ao combustível forem cortados.

As soluções existem – mesmo para um problema que, em São Paulo, pode ser considerado de calamidade pública de “Imobilidade Urbana” – e elas passam, principalmente, por trilhos.

É urgente promover e ampliar o transporte coletivo sobre trilhos na região metropolitana seja ele feito por metrô, trem, monotrilho ou o chamado VLT – veículo leve sobre trilhos.

A partir daí, várias providências deveriam ser tomadas, como o aumento dos combustíveis fósseis, a implantação de ciclovias, o conserto das calçadas para aumentar a locomoção a pé, a ampliação das faixas exclusivas para motos com redução de seu limite de velocidade, a construção de viadutos e passagens subterrâneas, a conservação da pavimentação de forma adequada e não o velho conhecido tapa buracos, a restrição do horário de caminhões e a criação de entrepostos para redistribuição da carga para veículos menores.

Verba para tanto já existe, visto que mais de R$ 8 bilhões estão sendo destinados aos corredores atuais e futuros, que em nada melhorarão a cidade. Mas há outras possíveis fontes de recursos, como os impostos sobre combustíveis, o pedágio urbano e a taxa de Mobilidade Urbana, incluída no IPVA dos veículos.

Na matemática simples e rápida, poderemos contar em pouco tempo com um transporte mais rápido e eficiente; a redução do número de veículos nas ruas e, consequentemente, do consumo de combustíveis; uma sobra de dinheiro de sua manutenção; um menor impacto dos fretes sobre a inflação e, claro, com uma grande melhoria na qualidade do ar e do meio ambiente como um todo. As gerações futuras agradeceriam, sem duvida.