A inflação oficial brasileira subiu menos do que o esperado em novembro e chegou ao menor nível para o mês em 18 anos, com o índice indo abaixo de 7 por cento em 12 meses pela primeira vez em quase de dois anos, o que consolida apostas de que o Banco Central vai intensificar o afrouxamento monetário e abre espaço para que o teto da meta seja alcançado.

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu em novembro 0,18 por cento, contra 0,26 por cento no mês anterior, menor leitura para o mês desde 1998, quando recuou 0,12 por cento, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira.

Com isso, em 12 meses a inflação acumulada até novembro chegou a 6,99 por cento, sobre 7,87 por cento no mês anterior, na primeira vez que vai abaixo da casa de 7 por cento desde dezembro de 2014 (6,41 por cento), ainda que num cenário de recessão econômica que prejudica a demanda.

"A redução da inflação tem um efeito da recessão sobre preços de vestuário, alimentos e passagens aéreas. Há uma interferência clara da demanda menor. Esse é um reflexo da recessão", destacou a economista do IBGE Eulina Nunes dos Santos.

As expectativas em pesquisa da Reuters junto a analistas eram de alta de 0,27 por cento em outubro, acumulando em 12 meses avanço de 7,08 por cento.

Na semana passada, o BC deu sequência ao ciclo de afrouxamento monetário com novo corte de 0,25 ponto percentual na Selic, o segundo seguido, levando-a a 13,75 por cento.

O resultado de novembro do IPCA consolida as apostas no mercado de que o próximo corte da taxa básica de juros será de 0,5 ponto percentual.

"O IPCA mostra que há grande espaço para cortar os juros", disse o economista-sênior do Banco Haitong, Flávio Serrano, acrescentando que, na sua avaliação, o BC deve esperar ter mais elementos antes de ampliar o corte para 0,75 ponto. "De 0,50 em 0,50 ponto ele consegue dosar melhor."

A ata do último encontro do BC mostrou que houve discussão sobre aumentar o ritmo de cortes, com alguns membros defendendo que a evolução favorável da inflação, a aprovação inicial de medidas fiscais e o ritmo fraco da economia justificariam o movimento.

Nesta semana, o presidente do BC, Ilan Goldfajn, reforçou essa visão ao afirmar que a autoridade monetária está sensível ao nível de atividade econômica e que a ancoragem das expectativas é o que abre espaço para flexibilização nos juros.

ALIMENTOS

As principais influências para o resultado de novembro foram os grupos alimentação e bebidas, com queda de 0,20 por cento, e artigos de residência, com recuo dos preços de 0,16 por cento.

Entre os alimentos, as maiores quedas foram registradas por feijão carioca (-17,52 por cento) e tomate (-15,15 por cento).

Na outra ponta, os grupos que apresentaram em novembro as maiores altas foram saúde e cuidados pessoais, de 0,57 por cento, e despesas pessoais, de 0,47 por cento.

A inflação de serviços, por sua vez, desacelerou ligeiramente a alta em novembro a 0,42 por cento, sobre 0,47 por cento no mês anterior, acumulando em 12 meses 6,84 por cento.

O resultado da inflação em 12 meses até novembro está ainda acima do teto da meta oficial do governo, de 4,5 por cento pelo IPCA, com margem de 2 pontos percentuais. Mas depois desse resultado bem mais fraco que o esperado, já se fala em ficar dentro da meta este ano.

"Existe a possibilidade real de o IPCA fechar dentro do teto da meta, visto que dezembro do ano passado foi muito alto para o atual padrão da inflação", disse Eulina, do IBGE, lembrando que o IPCA subiu 0,96 por cento no último mês de 2015. 

A alta da gasolina anunciada neste mês, entretanto, pode prejudicar esse cenário. A Petrobras anunciou o aumento do preço da gasolina em 8,1 por cento nas refinarias, o que pode fazer o combustível subir 3,4 por cento nas bombas.

"Se não fosse o reajuste da gasolina, que vai pressionar o IPCA em dezembro, as chances não seriam impossíveis (de alcançar o teto da meta ainda este ano)", disse o economista da Tendências Marcio Milan.

Fonte: Reuters, 09/12/2016