O Banco Central (BC) trouxe uma novidade nas suas projeções apresentadas no Relatório de Inflação (RI), incorporando explicitamente nos seus pressupostos a queda temporária da taxa Selic abaixo de 7% ao ano ao longo de 2018 prevista pelos analistas de mercado. O significado disso é que, hoje, as projeções de inflação dão mais conforto do que se supunha para os juros caírem abaixo de 6,75% ao ano no começo do ano que vem.

Duas semanas atrás, o BC havia informado que, caso a Selic se comporte como previsto pelo mercado nos próximos anos, a inflação ficará em 4,2% em 2018, portanto abaixo do centro da meta do ano, definida em 4,5%. Mas, no comunicado e na ata da reunião de dezembro do Comitê de Política Monetária (Copom), estava dito que a inflação ficaria em 4,2% em 2018 caso se confirmassem as projeções do mercado para a Selic de 7% ao ano no fim de 2017 e 2018, elevando-se para 8% ao longo de 2019.

Já no RI, divulgado ontem, o BC destaca que o mercado prevê que a Selic vai cair temporariamente abaixo de 7% ao longo de 2018. "A expectativa Focus é de que a taxa Selic atinja um mínimo de 6,75% ao ano no início de 2018 e entre em trajetória de alta em dezembro do mesmo ano, atingindo 8% ao ano em abril de 2019 e mantendo-se nesse patamar até o final de 2021." É a primeira vez em muito tempo que o Copom se refere à oscilação da Selic ao longo do ano. O diretor de política econômica do BC, Carlos Viana de Carvalho, disse ontem que "não há nenhuma mensagem oculta" nesse trecho do relatório.

Mas não dá para ignorar a informação nova: com os juros em 6,75% ao ano ao longo da maior parte do ano, a inflação fica em 4,2%, confortavelmente abaixo da meta de 2018, de 4,5%.

Antes, o que se sabia com segurança era apenas que, com juros de 7% ao ano em fins de 2016 e 2017, a inflação ficaria em 4,2%. Uma outra projeção divulgada no relatório mostra que, se os juros ficarem estacionados em 7% ao ano ao longo de 2018 (algo improvável, já que o BC sinalizou mais um corte em fevereiro), a inflação será ainda menor. Nesse caso, o índice cairia a 4,1%. Ou seja, as projeções parecem indicar inflação abaixo da meta se os juros ficarem em 6,75%, sinalizando que há espaço para uma Selic de 6,5% ao ano ou até menor do que isso.

Naturalmente, não é apenas essa projeção de inflação que vai determinar os próximos cortes na taxa básica de juros. O BC tem dito que, embora tenha sinalizado uma baixa de 0,25 ponto para fevereiro, essa indicação está mais sujeita a reavaliações em função da evolução do cenário e dos riscos no horizonte.

O comunicado e a ata da reunião do Copom já mostraram - e o presidente do BC, Ilan Goldfajn, confirmou - que os riscos no horizonte são simétricos, do lado positivo e do negativo. Aparentemente, dependendo de como evoluírem os riscos, o Banco Central poderá cortar mais do que o indicado, com um movimento de 0,5 ponto em fevereiro, ou deixar a taxa inalterada.

Há dois pontos importantes adicionais no relatório que merecem menção, do lado mais "dovish". Um deles é que o BC diz que a surpresa inflacionária   ocorrida em outubro e novembro envolve também a inflação subjacente de serviços. A evolução dos núcleos, é bom lembrar, é o principal ponto acompanhado pelo BC para decidir se adota uma postura mais "dovish". Outro ponto que merece atenção é que nas duas últimas semanas, desde a reunião do Copom de dezembro, a inflação surpreendeu novamente o BC.

"Na comparação com as projeções de inflação da reunião do Copom de dezembro (211ª reunião), houve redução de aproximadamente 0,1 p.p. para 2017 (ver notas da 211ª reunião), em função da inflação mais baixa que a esperada para novembro e da revisão da projeção para dezembro", afirma o relatório.

Fonte: Valor - Finanças, por Alex Ribeiro, 22/12/2017