O Comitê de Política Monetária (Copom) do BC cortou ontem a taxa básica em 0,5 ponto percentual, para 4,5% ao ano. A decisão, tomada de maneira unânime, levou a Selic para nova mínima histórica.

O colegiado, desta vez, emitiu sinalização mais lacônica sobre os passos que pretende dar nas próximas reuniões: “O Copom entende que o atual estágio do ciclo econômico recomenda cautela na condução da política monetária”. O colegiado completa a sua mensagem enfatizando que a condução da política monetária será dependente da evolução do cenário econômico. “O Comitê enfatiza que seus próximos passos continuarão dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação.”

O comunicado traz projeções em dois cenários condicionais, em que a inflação dos próximos dois anos fica praticamente estável e abaixo das metas, mesmo com diferentes taxas de câmbio. Em um deles, com juros e câmbio extraídos do Focus, a inflação seria de 3,5% em 2020 e de 3,4% em 2021 - abaixo das metas de 4% e 3,75%, respectivamente. Esse cenário leva em conta câmbio de R$ 4,10 em 2020 e R$ 4 em 2021. Os juros oscilariam como o previsto pelo mercado, caindo a 4,25% em fevereiro, subindo a 4,5% no fim de 2020 e aumentando a 6,25% ao ano em 2021. Na reunião anterior, a inflação projetada era de 3,6% e 3,5%, com o câmbio em R$ 4 em 2020 e R$ 3,95 em 2021.

Em um cenário híbrido, com taxa de câmbio constante em R$ 4,20 e juros do Focus, apenas a projeção para 2021 caiu ligeiramente, de 3,7% para 3,6%. A estimativa para 2020 foi mantida em 3,7%. Em ambos os casos, entretanto, o câmbio está mais desvalorizado do que os R$ 4,05 estimados anteriormente.

No comunicado, o BC faz mudanças no seu cenário econômico, decrevendo, por exemplo, quadro mais favorável à atividade. “Dados de atividade econômica a partir do segundo trimestre indicam que o processo de recuperação da economia brasileira ganhou tração, em relação ao observado até o primeiro trimestre de 2019.” Em relação ao setor externo, o cenário deixou de ser “incerto”. Também foi retirada menção a respeito de “riscos associados a desaceleração mais intensa da economia global”.

O BC promoveu ajustes no balanço de riscos, ou seja, fatores que podem fazer a inflação acelerar mais do que o previsto ou ficar aquém do projetado. Entre fatores que podem fazer a inflação subir mais que o previsto, o Copom volta a citar a incerteza sobre como os cortes de juros feitos até agora vão afetar a inflação e riscos de uma piora do cenário externo ou de frustração nas reformas. Uma novidade foi citar entre os riscos a possibilidade de mudanças na intermediação financeira, como redução do crédito direcionado e ampliação do mercado de capitais, aumentarem a potência da transmissão do corte de juros à inflação.


Fonte: Valor-Finanças, por Estevão Taiar e Alex Ribeiro - Brasília e São Paulo, 12/12/2019