Enquanto as grandes empresas buscam cada vez mais o mercado de capitais para se financiar, os bancos intensificam a disputa para ampliar o crédito para as micro, pequenas e médias empresas. A briga é por uma carteira cujo saldo estava em R$ 528 bilhões ao fim de outubro e avançou R$ 26,3 bilhões nos últimos 12 meses.

Para melhorar a presença nesse nicho, as grandes instituições financeiras têm criado estratégias e áreas específicas, divididas por porte e segmento de atuação. Além da concorrência do próprio sistema financeiro tradicional, os bancos enfrentam nos últimos três anos a disputa com as plataformas de crédito independentes.

Daissuke diz que o olhar mais atento para a carteira de crédito expandida se dá justamente em um momento de juro baixo, quando as grandes companhias buscam se financiar no mercado de capitais e que esse movimento também começa a afetar parte das empresas de médio porte. “Temos visto emissões de R$ 50 milhões e R$ 80 milhões, um movimento novo dessas companhias”, observa Daissuke.O banco tem usado recursos de analytics e estudos de mercado para ser mais assertivo na identificação de oportunidades de crescimentos da carteira. “Vemos que o aquecimento não é para todos os segmentos. Varejo tem crescido de forma inesperada. Imobiliário cresce especialmente em São Paulo”, observa Daissuke.

O Santander, cuja carteira de financiamento a PMEs avançou 11,6% nos 12 meses encerrados em setembro, para R$ 38, 6 bilhões, tem política global de estratégias para avançar nesse mercado. Em julho, criou um segmento só para atender o micro empreendedor individual (MEI), utilizando para isso as operações de adquirência (as maquininhas de pagamento da Getnet). “Aqui o potencial é enorme. São 9 milhões de empreendedores formalizados no país. A cada dez segundos nasce um MEI, segundo o Sebrae. E são mais de 500 atividades. Fora os 20 milhões não formalizados”, diz Luis Ricardo de Souza, superintendente executivo de PMEs do Santander.

O banco espanhol criou ainda estruturas descentralizadas fora do eixo Rio-São Paulo para atender as companhias de médio porte, que faturam de R$ 30 milhões a R$ 200 milhões ao ano, e espaços dedicados dentro das agências ao atendimento de empresas que faturam de R$ 3 milhões a R$ 30 milhões. Hoje são 386 agências com esse tipo de divisão. Outra novidade no segundo trimestre foi a inauguração do Duo, atendimento único para PF e PJ. O cliente pode escolher o gerente por quem quer ser atendido e pagará tarifa única por isso, informa Souza. Hoje são 30 mil clientes no perfil Duo, mas o banco pretende atingir 200 mil até o ano que vem, do total de 1,1 milhão de PMEs que tem como clientes.

Na plataforma do Santander dá para contratar crédito direto para capital giro, descontos de duplicata e de cheques e antecipação de recebíveis. Na mesma direção, na plataforma do Itaú Unibanco dá para simular, contratar e até mesmo cancelar produtos de crédito. “E para operações mais complexas, o cliente conta com os nossos gerentes”, afirma André Daré, diretor do banco, que encerrou o terceiro trimestre com R$ 84 bilhões na carteira de crédito de micro, pequenas e médias empresas.O resultado é 24,5% maior no terceiro trimestre ante igual período do ano anterior. Uma novidade este ano foi a adoção de taxa zero para antecipação das vendas à vista para empreendedores que trabalham com a Rede (maquininha de pagamento).

No capital de giro com prazo superior a 365 dias - a linha mais demandada -, Itaú, Bradesco e Santander derrubaram a média dos juros de 24,04%, 22,75% e 29,39% para 18,05%, 18,93% e 26,03% ao ano, respectivamente, de janeiro de 2018 para cá, segundo o BC.


Fonte: Valor, por Roseli Loturco - São Paulo, 03/12/2019