A valorização de 40% nos imóveis de Itaquera, na Zona Leste de São Paulo, desde o anúncio em outubro do ano passado da Federação Internacional de Futebol (Fifa) de que o Itaquerão foi escolhido para sediar a abertura da Copa de 2014, tem afastado os tradicionais moradores da região, que procuram preços mais baixos.

A alta, no entanto, não foi suficiente para igualar o valor do metro quadrado da região ao de outros bairros da periferia da cidade. Comparado a bairros como Brasilândia, na Zona Norte, e Campo Limpo, na Zona Sul, por exemplo, de perfil similar de moradia, os preços de Itaquera ainda são mais baratos.

De acordo com a Empresa Brasileira de Estudos do Patrimônio (Embraesp), a alta dos preços reflete as melhorias viárias e a especulação imobiliária na região de Itaquera motivada pela Copa.

Hoje, um imóvel com dois dormitórios tem preço médio de R$ 3.088 por metro quadrado em Itaquera, que fica a cerca de 20 quilômetros do centro, possui 52 favelas e estações de trem e metrô.

Em São Paulo, a média do metro quadrado desse tipo de imóvel fica em R$ 5.458. “Quanto mais próximo do centro, mais valorizados são os imóveis”, diz.

No Campo Limpo, 18km do centro e 169 favelas - o maior número entre os distritos de São Paulo -, um imóvel de dois quartos sai por R$ 3.463 o metro quadrado.

“O Campo Limpo é vizinho do Morumbi (bairro de classe média alta) e isso ajuda o bairro a ter preços mais altos”, diz o diretor da Embraesp, Luis Paulo Pompeia. O Campo Limpo tem metrô da Linha 5-Lilás, que precisa de baldeação com trem para chegar ao centro e as demais linhas do metrô.

Na Brasilândia, a média do metro quadrado de um imóvel de dois dormitórios chega a R$ 3.181. O bairro não possui ligações de metrô e trem, fica a cerca de 20 km do Centro e possui 29 favelas.

Segundo o Embraesp, Campo Limpo, Brasilândia e Itaquera são bairros onde predominam residências horizontais (casas e prédios de até quatro andares), habitadas por pessoas de classe média baixa.

Perspectivas
De acordo com ele, a ocupação dos bairros mais centrais e a média mais alta de preço de imóveis em outras regiões periféricas pode gerar, no médio prazo, aumento dos preços de Itaquera.

“Há espaço para valorização pelo crescimento da própria cidade, que registra tendência de alta dos preços”, avalia o diretor da Embraesp, que vê influência especulativa sobre os preços da região até julho de 2014, quando ocorre a Copa do Mundo. “O perfil do ocupante dessa região não sustenta uma alta tão forte (quanto os 40% de alta observados até agora)”, afirma Pompeia.

O diretor lembra ainda que o estádio do Corinthians, que é o maior indutor atual dos preços, deverá ser também motivo de baixa no valor de alguns imóveis. “As torcidas causam muito tumulto. Quanto mais próximo do estádio, menor o valor do imóvel e maior a dificuldade de venda. Isso ocorre no Morumbi, na zona sul, e no Pacaembu, na zona central”, considera.

Impacto dos jogos
O sócio-gerente da consultoria Grant Thornton International no Brasil, Paulo Sergio Dortas, diz que em Londres os jogos olímpicos deste ano mudaram o cenário do East London, bairro distante do centro que foi palco dos jogos.

“O bairro se transformou, atraindo novas empresas, comércio e outro perfil de morador”, disse. No caso de Itaquera, Dortas considera que as melhorias na mobilidade urbana, conquistadas a partir das novas vias de acesso previstas, ajudarão a valorizar os imóveis e atrair novos moradores e negócios para o bairro. “Em São Paulo ter facilidade de acesso é muito importante”, considera.

Para a comerciante Maria Aparecida Gomes, 57 anos, moradora de Itaquera, as pessoas já veem a região de outra forma. “Antes falavam mal, agora que há esses investimentos melhorou”, diz. Ela lembra que um apartamento do conjunto habitacional onde vive valia R$ 40 mil antes do anúncio dos jogos e agora são vendidos por até R$ 120 mil.

A escriturária Lusimeire Souza da Silva, 45 anos, diz que a valorização ainda não é palpável para os moradores da região. “Não vou alugar e nem vender, então isso, por enquanto não me beneficia”, considera.

Já o subprefeito de Itaquera, Paulo Máximo, lembra que o bairro sempre foi esquecido e os moradores eram vítimas preconceito. “Era um bairro-hotel. As pessoas só moravam aqui. Quando outros ficavam sabendo que morava em Itaquera torciam o nariz”, diz. Hoje, segundo ele, o bairro recebe obras viárias e construções de novos equipamentos sociais. “Há desenvolvimento. Os imóveis estão valorizados, há cursos de capacitação profissional e em pouco tempo teremos mais vagas de emprego e o trabalho estará próximo do itaquerense”, considera.

Profissionalização
Para o Sebrae, o comércio deve ser justamente o setor de Itaquera que mais vai tirar proveito da Copa do Mundo. Ao todo, a entidade estima que cerca de 600 empresas do setor aumentem o faturamento com o evento. Segundo o diretor superintendente do Sebrae, Bruno Caetano, o legado empresarial do evento será o de gerar melhor capacidade de gestão, além da possibilidade de acessar novos mercados.

“Os empresários devem conseguir fazer transição desse perfil de empresa que atende apenas consumidor final para se conectar e outras empresas”, avalia.

Para o subprefeito Paulo Máximo, já há mudanças visíveis na atividade do bairro.“Havia comércio clandestino com ambulantes comercializando produtos contrabandeados. Hoje houve profissionalização e eles foram transformados em microempresários”, diz o subprefeito.

Hoje o comércio do bairro é concentrado na rua Gregório Ramalho e no seu entorno, região em que antes predominavam residências. Por lá, narradores de loja disputam a atenção de quem vai pegar um ônibus para outros bairros ou circula pela via.

Entre os produtos à venda estão artigos populares, como produtos com data de vencimento expirando que saem pela metade do preço, e eletrodomésticos das Casas Bahia.


Fonte: Valor, por Guilherme Soares Dias, 14/11/2012