A opção de trabalhar longe do escritório, total ou parcialmente, na pandemia tem feito profissionais repensarem o lugar onde moram. Trocar de cidade e deixar os grandes centros aparece como alternativa para quem busca mais qualidade de vida.

Pesquisa realizada com 1.000 profissionais, entre 26 de setembro e 06 de outubro, pela Ticket, mostra que 28% consideram fazer essa transição levando em conta a menor necessidade de deslocamento à estrutura física da empresa. No levantamento, 7% afirmaram já ter usado casas de veraneio distantes dos grandes centros como home office.

Dos entrevistados, 36% disseram que suas empresas já sinalizaram a adoção permanente do trabalho remoto, 33% devem trabalhar em um modelo híbrido, alternando expedientes no escritório e em casa, e 31% devem voltar presencialmente. Quase metade dos profissionais (44%) afirmaram que preferiam continuar no home office. Entre os participantes, 70% têm entre 25 e 44 anos, 55% são do setor de serviços e 64% da região Sudeste.

Entre os que se adaptaram bem ao trabalho remoto, está Renato Fonseca, 41, gerente de MKT da Ticket. Ele está no grupo que prefere morar em outro local, mesmo com a volta parcial ao trabalho presencial. Na pandemia, ele alugou seu apartamento em São Paulo e mudou definitivamente com a mulher e os filhos, de 3 e 10 anos, para seu apartamento de veraneio no litoral, em Mongaguá (SP).

A família se instalou depois de uma pequena reforma de adaptação para o trabalho. “A conexão de internet é melhor, consegui encontrar escola boa para meus filhos, a qualidade do ar é boa, foi ótimo”, diz. Agora, ele vai levar quarenta minutos a mais para chegar ao escritório em São Paulo, alguns dias por semana, mas o custo benefício, segundo ele, valeu a pena.

Aos poucos, os profissionais estão encontrando novas formas de trabalhar a distância. A pesquisa mostra que 39% contam com um cômodo exclusivo para isso e 57% dispõem de uma ambiente em casa que não precisam dividir com outras pessoas.

Marcelo Roboredo, CFO da Ticket, resolveu trabalhar de sua chácara no interior, em São Roque, porque estava difícil dividir o espaço de trabalho com os filhos de 21 e 19 anos e a mulher, todos tendo que exercer atividades remotas. “Em 30 dias de isolamento já estávamos estressados”, conta. Foi então que teve a ideia de trabalhar da chácara. Sua agenda ficou assim: às 10hs call embaixo da árvore, às 12hs reunião ao lado da churrasqueira, às 18hs chat da sala de jantar.

Dessa maneira, a família passou a se revezar em novos espaços de trabalho. O esquema, uma semana no interior e outra em São Paulo, não funcionou para um dos filhos, que preferiu continuar em casa. O tempo de deslocamento para o trabalho presencial aumentou em uma hora, mas sua intenção é manter essa rotina mesmo no trabalho híbrido.

O diretor de RH da Ticket, José Amaro, conta que a empresa, com 550 funcionários, propôs a volta voluntária ao trabalho presencial no fim de setembro, mas obteve só 50% de adesão. A partir do dia 16, no entanto, acontecerá a volta escalonada, em modelo híbrido, sem a incluir pessoas de grupos de risco. A empresa reduziu o escritório em São Paulo, mudou o layout e entregou dois andares. Ele acredita que para os mais jovens que ingressaram remotamente vai ser importante o contato presencial. “Acreditamos que algumas decisões mais criativas requerem a presença física, vai ser bom poder voltar ao escritório”, diz.

 

Fonte: Valor Econômico - Carreira, por Stela Campos - São Paulo, 29/10/2020