O Comitê de Política Monetária (Copom) manteve ontem a taxa básica de juros em 2% ao ano pela segunda reunião consecutiva e renovou a sua indicação de que não pretende subi-la tão cedo. O colegiado do Banco Central (BC) também manteve a sua avaliação de que o espaço para novos cortes, “se houver, deve ser pequeno”. No entanto, retirou trecho presente no comunicado da reunião anterior que fazia menção a “eventuais ajustes futuros” na Selic.

Por enquanto, a manutenção da taxa básica em 2% ao ano e o uso do “forward guidance” vêm criando um estímulo monetário adequado para o cumprimento das metas de inflação, segundo o comitê. O colegiado reconheceu que a inflação tem ficado acima do que era esperado recentemente, mas afirmou que esse choque deve ser temporário.

“O Copom entende que a conjuntura econômica continua a prescrever estímulo monetário extraordinariamente elevado, mas reconhece que, devido a questões prudenciais e de estabilidade financeira, o espaço remanescente para utilização da política monetária, se houver, deve ser pequeno”, disse em comunicado divulgado após a decisão, tomada de maneira unânime.

O comitê, porém, tirou a mensagem divulgada após a reunião de setembro, que dizia que “eventuais ajustes futuros no atual grau de estímulo ocorreriam com gradualismo adicional e dependerão da percepção sobre a trajetória fiscal, assim como de novas informações que alterem a atual avaliação do Copom sobre a inflação prospectiva”.

O Copom disse que considera “adequado o atual nível de estímulo monetário” produzido pela manutenção da Selic em 2% ao ano e pelo forward guidance. Para o comitê, continuam sendo cumpridas as condições para manter o forward guidance, que é a intenção do BC de não subir os juros. “As expectativas de inflação, assim como as projeções de inflação de seu cenário básico, encontram-se significativamente abaixo da meta de inflação para o horizonte relevante de política monetária; o regime fiscal não foi alterado; e as expectativas de inflação de longo prazo permanecem ancoradas”, disse.

Sobre os dados mais recentes de inflação, o comitê considera que eles ficaram “acima do esperado”, o que fez o colegiado elevar a sua projeção para a variação de preços deste ano. Esse movimento foi puxado pela “continuidade da alta nos preços dos alimentos e de bens industriais, consequência da depreciação persistente do real, da elevação de preço das commodities e dos programas de transferência de renda”.

Ainda assim, sustenta, a tendência é que essa alta, embora exija ser acompanhada observada, não se estenda de maneira relevante. “Apesar da pressão inflacionária mais forte no curto prazo, o Comitê mantém o diagnóstico de que esse choque é temporário, mas monitora sua evolução com atenção”, destacou.

Já a possibilidade de uma deterioração ainda maior das contas públicas faz com que as chances de a inflação ficar acima do projetado no horizonte relevante sejam maiores do que as chances de ficar abaixo, na avaliação do Copom. “O risco fiscal elevado segue criando uma assimetria altista no balanço de riscos”, disse.

O colegiado do BC, contudo, mudou a sua avaliação a respeito da inflação subjacente, mais sensível à política monetária e à atividade econômica. Antes, diversas dessas medidas estavam “abaixo dos níveis compatíveis com o cumprimento da meta para a inflação no horizonte relevante para a política monetária”. Agora, estão em níveis “compatíveis”.

Outra alteração foi no próprio horizonte relevante, “que inclui os anos-calendário de 2021 e 2022”. Até a reunião anterior, o ano de 2022 pesava “em menor grau”, segundo o Copom.

Um dos cenários para a inflação cheia traçados pelo BC mostra a variação dos preços ficando abaixo da meta nesse horizonte relevante. O cenário básico, que leva em conta a taxa de juros extraída do Boletim Focus e o câmbio partindo de R$ 5,60 e evoluindo segundo a paridade do poder de compra (PPC), mostra a inflação em 3,1% em 2021 e 3,3% em 2022 - abaixo das metas de 3,75% e 3,5%, respectivamente. A taxa de juros nesse caso encerraria o ano de 2020 em 2%, 2021 em 2,75% e 2022 em 4,5%.

O outro cenário, com o mesmo câmbio e juros constantes em 2%, colocaria a inflação em 3,2% em 2021 e 3,8% em 2022. Ou seja: no último ano do horizonte relevante, a variação de preços ficaria acima da meta.

Já o quadro externo, embora siga “relativamente favorável” para emergentes, apresenta desafios, segundo o Copom. “A forte retomada em alguns setores produtivos parece sofrer alguma desaceleração, em parte devida à ressurgência da pandemia em algumas das principais economias. Há bastante incerteza sobre a evolução desse cenário, frente a uma possível redução dos estímulos governamentais e à própria evolução da covid-19”, disse.

O Copom realiza a sua última reunião de política monetária do ano nos dias 8 e 9 de dezembro.


Fonte: Valor Econômico - Finanças, por Estevão Taiar e Alex Ribeiro - São Paulo, 29/10/2020