Durante a pandemia, os bancos brasileiros precisaram se adaptar ao trabalho remoto. Quase seis meses depois, não há consenso sobre como será o período pós-covid, mas algumas das maiores instituições financeiras do país planejam adotar o home office por mais tempo.

Há duas semanas, o Bradesco fechou um acordo com os seus funcionários para a regulamentação do teletrabalho. Juntos, empregados e banco vão decidir por quantos dias na semana o trabalho será feito em casa. A instituição se comprometeu a dar uma ajuda de custo de R$ 1.080 para gastos com internet, energia elétrica etc.

“Não vamos ter regras fechadas para todo mundo. Queremos atender a diversidade das áreas de negócios e voltadas a cada atividade, inclusive carga horária, mobilidade, nível de automação que cada atividade exige”, explica Glaucimar Peticov, diretora-executiva do Bradesco, com 97 mil funcionários. Segundo ela, o trabalho remoto todos os dias na semana não parece produtivo porque as pessoas precisam trocar ideias e vivenciar a cultura da organização.

Atualmente o segundo maior banco privado do país está com 94% do quadro administrativo em home office. Nas agências, metade está em casa e metade no local, num esquema de rodízio. Pelos próximos meses, esse revezamento será mantido. Para Glaucimar, o período de home office trouxe mais produtividade e autonomia para os funcionários. O engajamento e a colaboração entre as equipes aumentaram, diz ela.

No mês passado, o Itaú Unibanco anunciou a prorrogação do trabalho remoto até janeiro, pelo menos - hoje cerca de 50 mil funcionários trabalham de casa. “Não estamos dizendo que vai ser home office pra sempre”, observa Sérgio Fajerman, diretor-executivo de RH do banco. Na visão dele, a tendência é reduzir o espaço físico e ampliar a flexibilidade para trabalhar em casa ou no escritório conforme as necessidades de cada um.

“Percebemos avanços, como reuniões mais eficientes. Mas não tem nada de deslumbramento e modismo [com o home office]”, aponta Fajerman. Para ele, a redução dos deslocamentos é uma das vantagens do trabalho remoto, com ganho de tempo e qualidade de vida. Por outro lado, existe o risco de confundir o horário do expediente com as atividades pessoais.

Para Mateus Carneiro, sócio do BTG Pactual responsável pela área de RH do banco, o modelo de home office precisa levar em consideração o perfil da área ou função, a produtividade e as necessidades de cada funcionário. “Temos uma primeira impressão de que existem funções ou equipes mais flexíveis ou abertas a uma política mais clara de home office”, afirma. Para a área de tecnologia, por exemplo, o banco contratou cem pessoas com contrato de trabalho remoto.

Desde o início de maio até setembro, o BTG Pactual fez mais de 700 contratações. Hoje o banco tem mais de 250 vagas abertas, das quais cem em tecnologia, boa parte das posições para atuar nas recém-criadas plataformas digitais para pessoas físicas e micro, pequenas e médias empresas. “Fazemos o bate-papo de boas vindas para os novos funcionários e todos os treinamentos de maneira remota”, conta Eduardo Besser, sócio do BTG Pactual, com cerca de 3.100 funcionários globalmente.

O Banco Pan está com mais de cem oportunidades de trabalho, sendo 15% em TI, nas áreas de desenvolvimento, segurança e prevenção a fraudes. Neste ano, até julho, contratou cerca de 270 novos profissionais, diz Leticia Toledo, gerente-executiva da área de pessoas do banco. “Inclusive temos vagas para trabalhar 100% em home office, principalmente em tecnologia. Estou contratando gente de Campinas, Minas, Goiás.”

Hoje com 97% do quadro (mais de 2.500 funcionários) em casa, o Pan tem feito estudos sobre a adoção do home office pós-pandemia. O banco estuda ampliar o percentual de funcionários que já faziam suas atividades de maneira remota - antes da quarentena, 20% dos empregados iam ao banco somente uma ou duas vezes por semana. Em pesquisa recente, a instituição notou que 83% dos gestores querem a ampliação do home office.

O Banco Original já construiu sua nova sede em São Paulo, inaugurada em julho, projetada para abrigar no máximo 70% da força de trabalho (2.400 funcionários). Hoje, 10% dos colaboradores estão indo para o escritório. Ainda não há uma definição para a pós-pandemia, mas a tendência é que seja adotado conforme a necessidade das áreas. “Queremos dar o máximo de autonomia para o gestor, junto com a equipe, defina isso”, diz Luis Aniceto, superintendente executivo de estratégia, marca e pessoas do Original.

 

Fonte: Valor Econômico - Suplementos, por Danylo Martins - Para o Valor, de São Paulo, 28/09/2020