O Sistema S cortará alguns serviços prestados pelo Serviço Social da Indústria (Sesi) em todo país para se adaptar ao acordo para corte de recursos fechado com o governo federal.

"Para as entidades da indústria, esse corte representará R$ 1,6 bilhão a menos [por ano]. Mas é o Sesi que vai suportar essa redução", disse ao Valor o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade. O Sesi presta serviços nas áreas de lazer, esporte, cultura, saúde e educação básica.

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O acordo faz parte das discussões conduzidas pelo governo sobre a reforma tributária e tem como objetivo reduzir a carga sobre empresas de diversos setores. Em até quatro anos, a cobrança que é feita sobre a folha de pagamento para financiar o Sistema S vai cair em 20%, o que significa redução de R$ 4,5 bilhões.

As empresas pagam hoje de 0,2% a 2,5% da folha de pessoal para o sistema. Os recursos vão para entidades relacionados a indústria (Senai e Sesi), agropecuária (Senar) Comércio (Senac e Sesc), transportes (Sest e Senat), cooperativismo (Seescoop) e micro e pequena empresas (Sebrae).

No caso da indústria, a contribuição sobre a folha que custeia o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) é de 1%, e a contribuição referente ao Sesi, de 1,5%. Pelo acordo, o percentual para o Sesi cai para 1% e o do Senai fica intacto.

As discussões com governo vêm ocorrendo há alguns meses, mas no caso da indústria ainda depende da aprovação do conselho da CNI, do conselho do Sesi e do conselho do Senai.

Além da redução de recursos, as negociações envolveram, como contrapartida, a criação de um programa de qualificação profissional, a ser anunciado pelo governo nos próximos dias.

Serão duas vertentes: uma vai atender aos desempregados e às empresas que necessitem atualizar seus trabalhadores; e a outra será direcionada para jovens cadastrados no Bolsa Família.

O convênio para os beneficiários do Bolsa Família já foi assinado com o Ministério da Cidadania e a expectativa é atender 3,5 milhões de jovens classificados como "nem-nem", ou seja, que não trabalham nem estudam, segundo uma fonte que participou das negociações. A implementação dessa parte do programa vai ocorrer como projeto-piloto ao longo do ano que vem.

Para as empresas, a ideia prevê treinar funcionários para as transformações tecnológicas em curso. "Apesar da retórica que foi adotada pelo governo sobre o Sistema S, existe um reconhecimento pelos técnicos da qualidade dos cursos oferecidos pelo sistema", destaca essa fonte.

Os dirigentes do Sistema S também se comprometeram a adotar um conjunto de indicadores de eficiência, numa espécie de compromisso de gestão.

Além de melhor informar a sociedade sobre o uso do dinheiro que é arrecadado para as entidades do sistema, haverá a previsão de se reduzir custos, como o valor atual da hora-aula.

O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, defendeu que, a despeito dos cortes, não se prejudique o "bom trabalho" feito hoje por Sesi e Senai.

"Eu sou um defensor de reduzir os custos para as empresas, agora não podemos perder o bom trabalho que o Sesi e o Senai de São Paulo fazem", afirmou.

Questionado, Skaf não detalhou se já havia uma estimativa para a perda de receitas e para os cortes que serão necessários. "Tem que se buscar o equilíbrio entre a economia das empresas, sem prejudicar um bom trabalho na formação profissional, na educação, no esporte e na cultura das entidades da indústria."

"Todos estamos pedindo um Estado menor e todos temos de dar uma dose de sacrifício", acrescenta o presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG), Flávio Roscoe. "Embora entendamos que o Sistema S é muito relevante, todos temos que fazer mais com menos", afirmou.


Fonte: Valor - Brasil, por Marcos de Moura e Souza, Hugo Passarelli e Thais Carrança | de Belo Horizonte e de São Paulo, 03/09/2019