Mesmo após a chacoalhada da bolsa em agosto, os analistas se mantêm otimistas com o mercado acionário e entre as principais recomendações para a bolsa estão as gigantes Vale, Petrobras e o setor bancário. As novidades para setembro são as ações da JBS e CPFL Energia, que vêm substituir os papéis de construtoras e varejistas que, na avaliação dos profissionais de mercado, já estão com preços mais salgados.

A Petrobras se manteve na liderança entre as indicações da Carteira Valor pelo décimo primeiro mês consecutivo. A estatal foi indicada por 11 das 17 corretoras participantes. Já a Vale ficou em segundo lugar, com oito indicações.

 

O setor financeiro segue em peso entre as recomendações. Bradesco, IRB Brasil, B3, Itaú Unibanco e Banco do Brasil continuam na lista de indicações, especialmente após a temporada de balanços, que mostrou resultados positivos. Os analistas apontam que essas ações ainda vão se valorizar diante da perspectiva de recuperação econômica, que deve dar fôlego à concessão de crédito e reduzir a inadimplência.

Sobre as estreantes entre as recomendações, os analistas acreditam que a JBS pode se beneficiar do aumento de demanda após a peste suína africana e vem entregando resultados consistentes, passado o impacto das delações dos irmãos Joesley e Wesley Batista na Operação Lava Jato, em 2017. Já a CPFL Energia pode ser um porto seguro em um momento de incerteza global, como é típico dos papéis do setor de energia, e suas ações estão baratas em relação às concorrentes Equatorial e Energisa.

Um ponto que merece atenção é a saída das varejistas e das construtoras da lista dos papéis mais indicados. O principal motivo é que essas ações não concentram os maiores descontos, apesar de ainda haver perspectiva de valorização.

No ano, a Carteira Valor subiu 9,19%, enquanto o Ibovespa ganhou 15,07%. Em 12 meses, a valorização da carteira atingiu 20,42%, ante 31,90% do principal índice da bolsa. Indicada por onze corretoras neste mês, a ação preferencia da Petrobras é recomendada especialmente para investidores de longo prazo, que buscam ações descontadas em relação às concorrentes estrangeiras.

O menor risco Brasil contribui para os analistas da Bradesco /Ágora Corretora manterem uma visão positiva sobre as ações da estatal, apesar de uma queda nas projeções sobre o preço do petróleo, devido à desaceleração da demanda global. "Gostamos da tese de investimentos da empresa, que passa pela continuidade nas vendas de ativos, crescimento de produção, desalavancagem e menor custo de capital", diz a corretora, em nota.

Pedro Galdi, analista da Mirae, diz que aguarda mudanças na estrutura de capital da Petrobras ao longo do processo de desinvestimentos, principalmente com a venda de parte de suas refinarias.

Apesar das dúvidas sobre investir em empresas que dependam da economia chinesa, em meio à desaceleração econômica global e à guerra comercial com os EUA, a Vale é recomendada por oito corretoras em setembro. A mineradora foi sugerida porque está em em boa posição dentro da indústria global de minério de ferro.

A Santander Corretora espera que a demanda por minério de ferro de alta qualidade continue nos próximos anos, beneficiando a empresa. "Acreditamos que os fundamentos do mercado de minério de ferro permanecerão sólidos, permitindo com que a Vale mantenha sua geração de caixa robusta por mais tempo", afirma, em nota.

A Necton destaca que a mineradora tem forte perspectiva de geração de caixa e uma margem de segurança com a alta no preço do minério de ferro desde o evento em Brumadinho, que saiu do patamar de US$ 70 para US$ 120. Por outro lado, o preço da ação ainda não voltou aos patamares de antes do incidente.

As indicações de bancos se baseiam na perspectiva de recuperação econômica, que devem dar fôlego à concessão de crédito. De acordo com Leandro Martins, analista da Modalmais, as ações PN do Bradesco estão mais baratas que as dos demais concorrentes do setor financeiro. "O Bradesco teve uma queda de quase o dobro do Itaú nas últimas semanas."

Galdi ressalta que o resultado do banco no segundo trimestre confirmou a expectativa de números sólidos. O retorno sobre patrimônio líquido (ROE) foi de 20,6% no período, contra 18,1% no segundo trimestre de 2018. "A ação do Bradesco ainda não reagiu em bolsa, nem incorporou esses eventos", diz.

Entre os frigoríficos, a JBS é a empresa preferida dos analistas. Na visão da XP Investimentos, a JBS está operando com solidez e vem entregando resultados. A corretora vê potencial na empresa com menores riscos de governança.

Além disso, o frigorífico, que gera 25% da receita com mercados de exportação e tem forte presença nos EUA, está retomando os planos de listar ações em Nova York. A XP também ressalta que a JBS pode capturar um possível impacto da peste suína africana, que eleva a demanda do setor agroexportador.

No setor de seguros, o IRB Brasil teve duas ofertas subsequentes de ações, que fez seus papéis ganharem mais volume e liquidez na bolsa. Caixa Econômica, Banco do Brasil e o governo federal venderam cerca de 11 milhões de ações ordinárias.

A Guide Investimentos sustenta sua recomendação em função da sólida estrutura acionária da companhia, da posição dominante do mercado de resseguros brasileiro e do forte desempenho no mercado de seguros nos últimos anos.

Ainda no setor financeiro, a B3 é recomendada pela Guide porque a expectativa é que os números operacionais continuem com um volume mais forte neste ano, especialmente de ações (segmento Bovespa) e futuros (BM&F), diante do quadro de juros mais baixos e do momento positivo para renda variável.

"Estamos observando uma janela bastante positiva do mercado acionário, que tende a favorecer as operações de emissões de ações, em que a B3 deve capturar o momento positivo para o mercado de capitais. Esperamos por volta de 20 a 30 operações de IPOs e follow ons até o final de 2020, o que deve impulsionar os ganhos operacionais de B3", diz a Guide Investimentos, em relatório.

O setor de energia também voltou fazer parte da Carteira Valor, representado pela CPFL Energia. Na visão dos analistas da Socopa Corretora, as ações da companhia estão com desconto.

"A CPFL está bem posicionada para crescer como uma consolidadora tanto em distribuição quanto em geração de energia, pois hoje entrega uma forte geração de caixa devido a boa localização do seu portfólio, principalmente em distribuição que está locada em concessões premium e concentradas, que possuem um dos maiores PIB per capita no país", diz a Socopa, em nota.


Fonte: Valor - Valor investe, por Júlia Lewgoy | de São Paulo, 03/09/2019