A anulação do reajuste de R$ 0,20 na tarifa de transporte em São Paulo – origem e uma das consequências das manifestações que sacudiram o Brasil em junho – deu relevante contribuição para a marca histórica que a presidente Dilma Rousseff deve comemorar nesta quarta-feira:  a menor variação mensal do IPCA em sua gestão. O cancelamento da elevação das passagens de ônibus e metrô não ficou restrito à capital paulista – em outras seis capitais pesquisadas pelo IBGE houve redução de tarifas. A resposta dos governos estaduais e prefeituras às ruas, combinado à continuidade da desaceleração dos alimentos, deve levar a inflação à estabilidade em julho, calculam, em média, 15 consultorias e instituições ouvidas pelo Valor Data. Estável, o IPCA reduzirá a inflação em 12 meses de 6,70% para 6,24%. Mas não se deve descartar deflação em julho, apurou a jornalista Tainara Machado, do Valor. O avesso da inflação baixa é a atividade fraca. E o governo já admite queda importante no 3º tri frente ao ritmo de recuperação visto até o 2º tri, relata a jornalista Claudia Safatle, do Valor.

Até o fechamento dos mercados, ontem, analistas torciam por deflação em julho e para que o IPCA não sofresse um repique nos próximos meses. Mas a apuração feita pela jornalista sobre atividade, que parece conspirar a favor da derrubada da inflação, joga água fria nos preços e também no impacto da desvalorização da taxa de câmbio. A favor do crescimento econômico, nenhuma conspiração.

No mercado, os prognósticos são de aumento de 1 ponto percentual na taxa de desemprego nos próximos 2 a 3 meses. O crédito anda moderado nos bancos públicos e praticamente parado nas instituições privadas. A indústria, que passou por apuros com a valorização da taxa de câmbio, não enfrenta esse problema hoje, com dólar a R$ 2,30.

O jornalista Cristiano Romero, editor-executivo do Valor PRO, serviço de notícias em tempo real do Valor, escreve em sua coluna publicada nesta quarta-feira que se o Brasil se beneficiou em boa medida, entre 2002 e 2012, do fator trabalho, que ajudou de diversas maneiras a puxar o PIB, agora o país precisará fazer reformas para elevar a produtividade do trabalho e a taxa de investimento da economia se tiver a intenção de crescer acima de 2% ao ano.

“A notícia preocupante é que os 2% [de contribuição para o PIB de fatores demográficos e do mercado trabalho] vão se transformar em 1% nos dez anos a partir de 2012”, diz o diretor do Ibre, da Fundação Getúlio Vargas, Luiz Guilherme Schymura.  O economista pondera que o nível mínimo de crescimento dado apenas pela demografia e pelo mercado de trabalho — não levando em conta, portanto, os ganhos de produtividade — sofreu um tombo e provavelmente ficará em torno de 1% entre 2012 e 2022.


Fonte: Valor, por: Angela Bittencourt, 07/08/2013