Governador do Espírito Santo e secretário-geral nacional do PSB, legenda que saiu da órbita do PT desde 2013, Renato Casagrande combina o pragmatismo do governante de um Estado que tem apenas 2% da população brasileira com a postura de quem se acostumou a estar no centro do debate nacional e cogita ir mais longe. Até mesmo a de se posicionar como um pré-candidato à Presidência em 2022.

Na reforma que vem se arrastando há 30 anos no Congresso, Casagrande diz compreender a posição do ministro da Economia Paulo Guedes, de “ir comendo o boi por bifes”, ao fatiar a proposta do governo em fases. Ainda que o tema seja de difícil consenso, o governador Casagrande considera que é possível se avançar muito mais.

Sobretudo incluindo a unificação dos impostos federais aos estaduais e municipais. “Vamos fazer um esforço gigantesco para uma reforma pequena”, critica, em entrevista ao Valor..

Em sua opinião, a reforma tributária corre o mesmo risco do que aconteceu com a previdenciária. “Ela foi feita com o governo federal e nós [Estados e municípios] tínhamos que fazer a nossa. Ficou pela metade. A tributária está caminhando na mesma direção, também pela metade. É uma proposta que na primeira etapa é só a junção de PIS e Cofins (federais), basicamente. Aí vem as outras etapas até chegar a quarta fase, que é o imposto digital, a CPMF que o ministro está propondo”, diz.

Casagrande diz que, em princípio, é contra ao tributo semelhante à antiga CPMF. “É um imposto carimbado muito negativamente, todo mundo a princípio se manifesta contra. O ministro Guedes está dizendo que vai fazer compensações. Tem que ver qual é a proposta da compensação, como a redução de carga tributária na folha de pessoal”, diz.

O governador afirma que gostaria de ver um ambiente favorável no Legislativo para que se agregue ao debate Estados e municípios. “A ideia é juntar ISS com ICMS; seria bom para a sociedade brasileira. Lógico, os municípios reagem a isso. Mas poderíamos ser um pouco mais audaciosos nessa proposta”, diz.

Casagrande reconhece que o governo federal deixou de lado o plano de um imposto único diante das dificuldades de se obter consenso. Mas defende que a ideia original seja retomada pelo Congresso. “O Congresso foi protagonista na reforma previdenciária e pode ser, mais uma vez, na tributária e ter uma proposta mais audaciosa do que a do ministro Paulo Guedes”, diz o governador.

Por um lado, o governador capixaba se mostra preocupado com uma das sugestões de Guedes como compensação para a nova CPMF: a redução da contribuição patronal no FGTS de 8% para 6%. “Tenho muita preocupação quando você só foca na redução das conquistas que os trabalhadores tiveram nestes últimos anos. Hoje o sistema tributário é um instrumento de concentração de renda. Qualquer mexida que retire direito do trabalhador é preciso ser avaliada, para que aquilo que a gente vai fazer no Congresso não seja uma situação que agrave um sistema perverso que temos hoje”, alerta.

Por outro lado, Casagrande considera cabível as discussões sobre reformulação no imposto de renda, como a retirada da possibilidade de deduções por despesas médicas. “Para poder aprovar o imposto digital é um debate que pode ser feito, não sou contra se fazer esse debate, não, para que torne o sistema mais eficiente e menos regressivo”, diz.

A segunda grande ideia de ampliação do governador é em relação ao arco de alianças para 2022. Defende que partidos de esquerda procurem coligações muito mais amplas, com siglas da centro-direita, para romperem a polarização entre o PT e o bolsonarismo. A dobradinha PSB e PDT, do presidenciável Ciro Gomes, tem que se consolidar com o apoio de outras siglas progressistas, como PV e Rede Sustentabilidade, mas não pode parar aí. “Tem que conversar com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), com outras forças de centro-direita, que são equilibradas, para que a gente possa ganhar energia que de condições de levar nossa proposta para o segundo turno”, propõe.

O “movimento bem mais amplo”, acrescenta, não jogaria água no moinho necessariamente na candidatura Ciro Gomes, embora a aliança preferencial entre PSB e PDT, nas eleições municipais deste ano, esteja sendo vista assim. “Não tem compromisso com nome nenhum. Há o desenho de uma aliança, mas ela não está ancorada em nome”, ressalta.

Nesse ponto, Casagrande não descarta que seu próprio nome esteja na mesa dos aliados. “Eu sou da política, estou inteiramente a disposição do partido. Não tenho debatido o tema nesse formato personalista, mas estamos inteiramente a disposição de um projeto como esse”, afirma.

O governador separa as críticas ao comportamento pessoal do presidente Jair Bolsonaro da atuação do governo federal. Num movimento que classifica como contraditório, o Executivo teria sido proativo ao destinar recursos “significativos em termos de valores para Estados e municípios” - até agora foram R$ 113 milhões ou 35% das despesas da administração capixaba com a covid-19. Por outro lado, diz, a atitude de Bolsonaro “sempre foi negacionista, de negar o vírus e o distanciamento social”. “Ele dificultou e dificulta o nosso trabalho”, afirma o governador, contrário ao impeachment do presidente, embora o PSB já tenha aprovado uma resolução a favor do afastamento de Bolsonaro.


Fonte: Valor Econômico - Brasil, por Por Cristian Klein - do Rio, 06/08/2020