O estoque de imóveis retomados pelos bancos é apontado no setor como um dos fatores que atrapalham uma volta mais firme do crédito à construção. As instituições negam haver relação direta entre as duas coisas. 

A inadimplência de clientes pessoa física e jurídica levou os bancos a acumular quase 100 mil imóveis recebidos em garantia de empréstimos não pagos - somente a Caixa tem 46 mil deles. Além de representar um desafio operacional para os bancos, os imóveis retomados pesam no balanço das instituições financeiras, consumindo capital que poderia ser usado na concessão de empréstimos.

"Com tanto imóvel, os bancos não financiam os incorporadores", afirma Claudio Hermolin, presidente da Brasil Brokers, empresa de intermediação e consultoria imobiliária.

Na leitura do presidente da Habitat Capital, Eduardo Malheiros, um estoque tão grande afeta a disposição dos bancos de financiar obras para colocar mais imóveis no mercado.

Leandro Diniz, diretor de empréstimos e financiamentos do Bradesco, discorda. "O mercado não estaria maior hoje de qualquer forma", pondera. Para Fabrizio Ianelli, superintendente-executivo do Santander, há duas situações distintas. Uma delas é quando os imóveis são recebidos pelo banco
na execução de garantias de empréstimos a pessoas físicas. Nesse caso, diz ele, não há problemas porque são casas e apartamentos pontuais, que podem ser recolocados no mercado.

Outra situação, mais complexa, envolve os bens retomados de empréstimos às próprias construtoras. Nesses casos, o banco fica muitas vezes com uma concentração de unidades em uma determinada praça - um prédio inteiro, por exemplo. "Aí é preciso ter mais cuidado para vender porque não posso deteriorar o mercado daquela região", afirma Ianelli. "Muitas vezes é preferível carregar aquilo por mais tempo no balanço."

Paulo Siqueira, vice-presidente de habitação da Caixa, diz que não vê os imóveis retomados como inibidores de novos financiamentos do banco. Segundo ele, o estoque é pequeno em relação ao total da carteira da instituição.

No mês passado, a Caixa anunciou que fará um leilão para vender, em dois lotes, 6 mil imóveis retomados. O preço mínimo somado das unidades foi estimado em R$ 1,2 bilhão, o que representa um deságio de 30% sobre o valor de avaliação. Os demais bancos também estudam formas de se desfazer desses bens.

Além das unidades em poder dos bancos, as próprias incorporadoras ainda têm grandes estoques. Em São Paulo, onde o mercado já está mais aquecido, os imóveis disponíveis representam cerca de um ano e meio de vendas. No Rio, há estoque para três anos, diz Hermolin, da Brasil Brokers.

Fonte: Valor - Finanças, por Talita Moreira, 05/07/2018