Incorporadoras com foco em empreendimentos dos padrões médio e alto se preparam para a retomada de lançamentos na cidade de São Paulo - maior mercado imobiliário do país -, estimuladas pela permissão de reabertura parcial dos estandes de vendas de imóveis. Mas seguem bastante criteriosas na tomada da decisão efetiva de apresentar projetos direcionados, principalmente, para consumidores finais, aguardando mais clareza de melhora dos indicadores macroeconômicos e da demanda.

“Estamos super cautelosos”, afirma o diretor de incorporação da Cyrela, Piero Sevilla. A maior e mais tradicional incorporadora de projetos dos padrões médio e alto tem monitorado, passo a passo, a curva de contaminação do coronavírus, além de dados referentes a emprego e renda. “Há uma dose de otimismo, no mercado financeiro, que não é o que a prática está mostrando”, diz o executivo.

Segundo o presidente da rede de imobiliárias Brasil Brokers, Claudio Hermolin, na fila para lançamentos, neste mês, no mercado paulistano, estão projetos do programa habitacional Minha Casa, Minha Vida e empreendimentos de unidades compactas, produtos que são “absorvidos rapidamente”. “A decisão de lançar projetos dos padrões médio e alto para famílias não foi tomada ainda”, diz Hermolin.

Enquanto aguarda a melhora das condições para lançar produtos, a companhia fundada por Elie Horn busca “o máximo possível” de aprovações de projetos das suas três marcas - Cyrela (padrões médio-alto e alto), Living (média renda) e Vivaz (empreendimentos enquadrados no Minha Casa, Minha Vida). Recentemente, deu início às pré-vendas de projeto da Living, no bairro do Ipiranga, com Valor Geral de Vendas (VGV) de R$ 130 milhões, e unidades de R$ 600 mil a R$ 1 milhão, ainda sem data prevista para ser lançado.

Por considerar que a crise financeira será mais longa do que a do setor de incorporação, a Even também assumiu postura conservadora. Segundo o presidente, Leandro Melnick, a Even não paralisou atividades operacionais que permitem lançamentos, como pedidos de registros de incorporação e preparação da estrutura de marketing, mas ainda depende de informações de mercado para “apertar o botão” da apresentação de empreendimentos. “Estamos preparados se as oportunidades vierem”, diz Melnick.

Após a liberação parcial da abertura dos estandes, em São Paulo, a Mitre Realty abriu para visitação três plantões de vendas de projetos - dois para a classe média e um de médio-alto padrão. A previsão inicial era lançar esses empreendimentos, cujo VGV soma R$ 450 milhões, no primeiro semestre.

“Nos três últimos fins de semana, tivemos um bom nível de visitas aos três projetos”, diz o diretor financeiro e de relações com investidores da Mitre, Rodrigo Cagali. Se esse ritmo se mostrar consistente, a incorporadora tem expectativa de realizar, em julho, pelo menos um lançamento e apresentar os demais também neste trimestre.

Segundo Melnick, da Even, desde meados de julho, as vendas “se intensificaram bastante”, mas a reabertura dos estandes não foi a principal razão para o aumento da comercialização. “O que fez diferença foi a melhora do humor com a economia, e os juros baixos”, diz Melnick, ponderando que a redução da Selic ainda não se reflete nas taxas cobradas de financiamento imobiliário.

O presidente da Even não informa quanto a companhia estima apresentar ao mercado, em 2020, mas afirma que “vai faltar calendário para lançamentos, mesmo que a retomada ocorra de maneira muito rápida”. Embora mais lentamente do que antes da quarentena, a incorporadora continua erguendo os plantões de vendas para apresentação de projetos.

A EZTec tem indicações de que, nas três últimas semanas, suas vendas de apartamentos prontos e em construção foram da ordem de R$ 20 milhões, superando o patamar semanal de R$ 15 milhões de janeiro e fevereiro, sem considerar a comercialização de lançamentos daquele período. A incorporadora tem vendido unidades do programa habitacional e apartamentos para as rendas média e alta.

Segundo o diretor financeiro e de relações com investidores da EZTec, Emilio Fugazza, a melhora do desempenho resulta da combinação de mudança da abordagem dos clientes pela incorporadora - com interação entre consumidor, corretor e agente financeiro -, da redução dos juros e da crença de que “este é um momento interessante para comprar imóveis” por parte de quem não correu o risco de perder o emprego desde o início da pandemia de covid-19. “Não estamos praticando descontos nas vendas”, diz.

A intenção da EZTec seria apresentar projetos a partir de agosto ou setembro. É mais provável, porém, que a retomada dos lançamentos ocorra no quarto trimestre, de acordo com Fugazza, pela “falta de visibilidade em relação às aprovações”. A incorporadora estima lançar de R$ 500 milhões a R$ 600 milhões em três projetos - dois para o alto padrão e um do Minha Casa, Minha Vida.

A Cyrela optou por não reabrir ao público em geral os estandes de vendas dos projetos que lançou anteriormente à pandemia de covid-19. A incorporadora está recebendo potenciais clientes somente com hora marcada. Segundo o diretor comercial, Orlando Pereira, os atendimentos exclusivos oferecem mais conforto aos consumidores e melhor taxa de conversão de visitas em vendas.

Enquanto não retoma os lançamentos para as rendas média e alta, a Cyrela tem buscado “deixar a casa muito mais em ordem”, de acordo com Sevilla. Segundo o diretor de incorporação, isso inclui canais mais abrangentes de conversas com clientes, mais cuidado com os produtos, voltando a discuti-los e avaliando se estão alinhados à nova realidade, além da constância na compra de terrenos, em São Paulo, para projetos de médio e longo prazo.

 

Fonte: Valor Econômico - Empresas , por Chiara Quintão -São Paulo, 03/07/2020