Em live promovida pela Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), ele disse que “o presidente [Jair Bolsonaro] está determinado a prosseguir com as reformas” e que “o Congresso é reformista”.

“Vamos conseguir gerar empregos com investimentos, redução de impostos sobre folha, simplificação de impostos”, prometeu.

O Brasil precisa acenar com a queda de impostos sobre empresas, defendeu, mas que para isso precisa ampliar a base de tributação. “O Brasil tributa demais o consumo e de menos a renda”, disse, acrescentando que é melhor ter base mais ampla, como tributação de operações digitais.

Segundo ele, o governo dará os passos iniciais da reforma tributária lançando o Imposto sobre Valor Agregado (IVA) federal e convidando Estados para integrar o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) nessa base.

“Vamos colocar impostos sobre dividendos”, afirmou, destacando que não quer tributar as empresas. “Não é razoável que alguém que vive de capital pague zero de imposto de renda sobre dividendos.”

O ministro também disse que a reforma administrativa continua na pauta da equipe econômica e que ela voltará ao tema ainda neste governo.

O país tem “dois meses de retorno seguro ao trabalho”, afirmou, mas já está de olho no processo de andamento de reformas regulatórias.

Segundo ele, o marco legal do saneamento, aprovado na semana passada, “foi só o começo”, e o Brasil vai “surpreender o mundo”. “Depois vem cabotagem, setor elétrico, petróleo, concessões, privatizações.”

Ainda sobre as reformas, ele disse que o país também precisa avançar em medidas como a autonomia do Banco Central.

Outra medida defendida pelo ministro foi a criação da chamada Renda Brasil. “Vamos juntar Bolsa Família com dois ou três programas sociais e criar o Renda Brasil. Vamos incluir alguns milhões de invisíveis”, disse.

Fundo do poço

Na avaliação do ministro, o fundo do poço para a economia foi abril. As medidas adotadas contra a crise, como o auxílio emergencial, “mantiveram os sinais vitais da economia”, afirmou. “Isso é muito importante para recuperação. Se houvesse necrose, quebra de cadeias, teria problema.”

Para ele, o país ainda pode ter recuperação em “V”, embora “mais próxima do ‘V’ da Nike” – alusão ao logo da marca americana para indicar um ritmo de recuperação mais lento que o da queda.

Guedes disse que as notas fiscais, por exemplo, indicam que o comércio varejista entre companhias em junho foi maior do que no mesmo mês do ano passado.

Dados relativos à produção na primeira quinzena de junho também mostram aceleração sobre maio, acrescentou. “Alguns setores continuaram funcionando, como a construção civil.”

Ele destacou que o Benefício Emergencial de Preservação do Emprego e Renda (BEm) foi um programa bem-sucedido, que, com pouco dinheiro (cerca de R$ 20 bilhões) preservou 12 milhões de empregos.

Crédito e investimento

O ministro também prometeu que “nos próximos 60 a 90 dias” o crédito vai chegar à ponta. “Não estava chegando, mas agora acredito que vai chegar”, afirmou.

De acordo com ele, o Brasil precisa superar 20% do Produto Interno Bruto (PIB) em investimento e os investimentos públicos não vão dar conta de fazer isso. “Vamos precisar atrair capitais e não só externos. Internos também.”

Guedes defendeu a tese de que o descontrole dos gastos públicos estava destruindo a dinâmica de crescimento do Brasil e disse que a década recente “está mais perdida que a década perdida dos anos 1980”.

O ministro ainda destacou o processo de queda dos juros, que foi acelerado pela pandemia. “O Brasil tem hoje um regime de juro muito baixo e câmbio bem mais alto e isso é bom para o país.”

Plano Pró-Brasil

Ao comentar o Pró-Brasil, plano apresentado em abril pelo ministro-chefe da Casa Civil, Walter Braga Netto, ele disse que, para fazer um programa de investimentos públicos, o país precisará aumentar impostos, emitir moeda e gerar inflação. “Tem que vir recurso de algum lugar.”

Guedes afirmou que, se o Pró-Brasil for uma coleção de investimentos e marcos regulatórios, é a favor. “Se for para cavar mais fundo o buraco anterior, sou contra”, acrescentou. “Quer empacotar o Brasil, faz um novo PAC [Programa de Aceleração do Crescimento].”

O ministro afirmou que todos do governo concordam que o caminho para retomada passa pelos investimentos. Mas esse processo precisa ser comandado pelo setor privado. “Quem vai investir? O mundo inteiro. Não é o setor público.”

Ele ainda disse que os militares perderam a “capacidade de manter o regime [a ditadura de 1964 a 1985] porque o modelo de crescimento daquele período foi se exaurindo”. “Sucesso é por meio de inteligência descentralizada” afirmou.

Infraestrutura

Guedes disse acreditar que virão recursos de fora para financiar investimentos de infraestrutura no país. Ele disse preferir que o investidor pague menos outorgas e invista mais no futuro.

“Nossa lógica é fortalecer o fluxo de investimentos futuros”, disse.

O país vai fazer 3 ou 4 grandes privatizações e também 3 ou 4 grandes concessões, afirmou. “Não estamos pensando tanto no curto prazo em valor arrecadado”, disse, acrescentando que, “se não fizermos isso, podemos ir para uma depressão”.

 
 

Fonte: Valor Econômico - Finanças, por Mariana Ribeiro e Fabio Graner - Brasília, 03/07/2020