A alta do dólar acertou em cheio o mercado futuro de juros e as taxas dos contratos de DI dispararam na tarde de ontem na B3. O gatilho do movimento veio com o avanço da moeda americana ao redor do mundo, tanto em comparação com os demais países emergentes quanto sobre outros desenvolvidos. No entanto, o já fragilizado mercado brasileiro acabou sofrendo mais. Tanto é que alguns juros de médio prazo voltaram a fechar em dois dígitos. A taxa do DI de janeiro de 2021 ficou em 10,350%, de 9,94% no ajuste anterior.

A desvalorização do real foi segurada inicialmente pela intervenção do Banco Central com swap cambial, mas aos poucos o efeito do movimento global foi sendo incorporado. "Mesmo o BC tentando desvincular os juros da política do câmbio, as taxas dos DIs sobem acompanhando o movimento do dólar", explica Matheus Gallina, trader de renda fixa da Quantitas.

O efeito é maior nos prazos mais curtos porque os investidores que apostam na piora do cenário do Brasil estão escolhendo atuar em juros em detrimento do dólar. "Os juros refletem a piora do cenário já que [diferentemente do câmbio] não tem o efeito da intervenção do BC, que prejudicaria a estratégia desses investidores", diz Gallina. "O Tesouro Nacional tem recomprado títulos, mas a influência é na parte mais longa da curva."

Com essa dinâmica pior, volta para a pauta a possibilidade de o BC elevar a taxa de juros na reunião da próxima semana. "Depois de dias de atuações tanto no câmbio como nas NTN-F, o mercado segue bastante volátil. Não vejo outra saída a não ser o BC considerar, de fato, subir juro para conter a deterioração no cenário", diz o operador Luís Laudísio, da Renascença.

Segundo estimativa da Quantitas, o mercado precifica 72% de chances de alta de 0,50 ponto percentual da Selic na semana que vem, quando o BC anuncia sua decisão de política monetária.

Já o economista-chefe do banco de investimentos Haitong no Brasil, Jankiel Santos, diz que ocorre uma queda de braço entre o BC e o mercado. "Não tivemos mudança nos fundamentos econômicos nos últimos dias", diz. "A inflação está ancorada, a atividade distante do seu potencial e com um grau de retomada devagar. Me parece estranho subir juros agora, espero que isso aconteça no início de 2019."


Fonte: Valor - Finanças, por Daniela Meibak, 15/06/2018