A greve dos caminhoneiros empurrou a inflação apurada na primeira prévia do Índice Geral de Preços ? Mercado (IGP-M) para o maior patamar em quase três anos, considerando a primeira leitura de cada mês. O indicador acelerou de 1,12% na primeira parcial de maio para 1,50% em igual período de junho, a maior taxa desde outubro de 2015 (1,64%). Um dos destaques de alta foi a batata-inglesa.

Com oferta fortemente prejudicada pelos protestos dos caminhoneiros, o preço do produto no atacado saiu de queda de 5,12% para aumento de 92,67% no período.

Somente a batata respondeu por um terço da aceleração do Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), com peso de 60% do IGP-M e que passou de 1,58% para 2,06% de aumento entre maio e junho, completou Salomão Quadros, superintendente adjunto de Inflação do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV). Mas o especialista não acredita em manutenção da taxa dos Índices Gerais de Preços (IGPs) nessa faixa nos próximos resultados.

Quadros comentou que a alta da batata, nessa magnitude, é anormal. ?Ficou muito evidente que, depois da greve dos caminhoneiros, os preços dos [itens] in natura iam subir?, observou ele, considerando que, com o bloqueio de estradas, produtos perecíveis seriam os mais afetados.

No atacado, os alimentos in natura como um todo saíram de recuo de 5,03% para alta de 9,70% entre a primeira prévia de maio e a de junho. Os alimentos processados, por sua vez, saíram de aumento de 0,53% para alta de 1,54% no mesmo período.

Isso, na prática, acabou dando fim à deflação nos preços dos alimentos no varejo (-0,07% para 0,61%). Com os preços dos alimentos em alta novamente, a inflação do varejo como um todo, apurada pelo Índice de Preços ao Consumidor (IPC), voltou a acelerar, indo de 0,21% para 0,54%. O especialista admitiu que os IGPs podem ficar em alta por algum tempo, mas esse avanço será passageiro. Os efeitos da greve dos caminhoneiros na inflação dos alimentos ainda devem perdurar pelo menos até o fim do mês, reconheceu ele. ?Vai demorar um pouco para a oferta [dos in natura] se ajustar novamente?, admitiu.

Outro aspecto mencionado por ele é o impacto cambial na inflação, que ainda persiste. A inflação no segmento de materiais para manufatura acelerou de 2,02% para 3,21% entre a primeira prévia de maio e igual prévia em junho. Este tópico é usado para mensurar impacto do dólar em alta na inflação dos IGPs, devido à alta presença de importados e commodities. ?Isso também ajudou a acelerar a primeira prévia do IGP-m?, salientou.

O especialista considera, no entanto, que há itens importantes em queda ou em desaceleração no atacado que podem contribuir para taxas menores dos IGPs no médio e no longo prazo. Por conta de oferta em alta, o preço do minério de ferro no atacado saiu de 7,99% para -1,12% entre a primeira
prévia de maio para igual prévia em junho. A inflação da soja, por sua vez, caiu de 5,05% para 0,93%, no mesmo período, também por boas notícias de oferta.

?Eu acho que este movimento dos ?hortifrutis? deve começar, ao longo do mês, a devolver estas altas ?absurdas??, disse. ?Não acho que [os IGPs] vão subir acima disso [de 1,50%]?, afirmou.


Fonte: Valor - Macroeconomia, por Alessandra Saraiva , 11/06/2018