A onda de vendas que assolou os mercados financeiros domésticos na semana passada começa a produzir as primeiras revisões de cenários - não por acaso, para pior. Grandes bancos privados do país já veem dólar mais alto do que antes. E outras instituições passaram a trabalhar com aumento de juros nos próximos meses, num quadro em que a depreciação cambial - que entre os extremos do ano chegou a 21% - elevará a inflação neste e no próximo ano.

O Itaú Unibanco elevou de R$ 3,50 para R$ 3,70 as estimativas de taxa de câmbio tanto para o fim de 2018 quanto para o encerramento de 2019. A equipe econômica do banco explica que a piora do cenário decorre de mudanças no quadro externo e de riscos internos. "As incertezas [...] têm se mantido elevadas e podem permanecer assim ao longo dos próximos meses", afirma a equipe. Outro ponto que desfavorece o real é o diferencial de juros, "muito baixo" para o padrão histórico.

O Bradesco aumentou a projeção para o fim deste ano de R$ 3,35 para R$ 3,60. A revisão é fruto do fortalecimento da moeda americana "em escala global", mas também das "incertezas remanescentes" quanto à agenda de reformas, além da piora do crescimento e da falta de margem fiscal para lidar com choques. "E reconhecemos que no curto prazo a relação do real com o dólar seguirá volátil", completam os profissionais do banco.

A MCM Consultores Associados foi ainda mais longe e já enxerga taxa de R$ 4,20 ao término de 2018, mas não sem antes "provavelmente" ultrapassar R$ 4,25 no momento de maior nervosismo. Em janeiro, a casa previa dólar a R$ 3,46 para dezembro. Com esse pano de fundo, a consultoria também revisou as contas para a meta Selic, que deverá agora ser elevada em 100 pontos-base em dezembro (contra previsão anterior de estabilidade em 6,50% ao ano). A alta persistirá no começo do ano que vem, até que o juro alcance 9% em abril.

Antes com estimativa de Selic de 6,50% ao término de 2018, o UBS agora trabalha com juro 200 pontos-base mais alto apenas neste ano. As altas devem ser iniciadas após a eleição: ou seja, o mais provável é que haja duas elevações de 100 pontos-base em cada uma das reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) de outubro e de dezembro.

O economista-chefe da instituição, Tony Volpon, afirma que o juro mais alto será necessário porque o país ingressou num "regime de exceção", em que as rápidas mudanças da liquidez global exigem que a taxa de juros se ajuste a um prêmio de risco mais alto. Para evitar alta da meta Selic, seria preciso uma intervenção vigorosa e contínua no câmbio, como a anunciada na semana passada, e também uma melhora das condições globais. "No entanto, mesmo que isso acontecesse, a persistência da incerteza nas eleições provavelmente acabará por levar a pressões monetárias adicionais, o que explica o fato de a alta da Selic ser hoje nosso cenário-base", diz Volpon, exdiretor do BC.

Mas as revisões de cenário ainda não são compartilhadas pela maioria do mercado. A despeito de toda a volatilidade, o Citi mantém cenário de que o real se valorizará até o fim do ano, fechando 2018 em R$ 3,34 por dólar. Isso representa ganho de 11% frente ao patamar atual. Leonardo Porto, economista-chefe do banco no Brasil, acredita que o dólar no exterior voltará a cair e que as eleições locais resultarão na vitória de um candidato pró- reformas. Com isso, o dólar terá aberto caminho para cair mais em 2019, terminando o ano que vem em R$ 3,23.

O Santander Brasil também manteve a estimativa já em vigor, de dólar a R$ 3,50 ao fim de dezembro. Em relatório, economistas do banco chamam atenção para "quão esticado" o dólar se mostrou ao se aproximar de R$ 4. "Embora alguns possam dizer que o real está ′caro′ devido ao ′carry′ incomumente baixo, outros podem argumentar que, em termos reais, a moeda brasileira está ′barata′ como poucas vezes se viu desde 1994."

E o J.P. Morgan manteve a recomendação "acima da média do mercado" para o real e sustenta projeção de R$ 3,60 ao término de dezembro. (Colaborou Ana Cristina Conceição)

Fonte: Valor - Finanças, por José de Castro, Lucas Hirata e Lucinda Pinto , 11/06/2018