Uma semana após o Banco Central (BC) manter a taxa básica de juros em 6,50% ao ano, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15), prévia da inflação oficial do país, surpreende o mercado ao desacelerar para 0,14% em maio, depois de ter avançado 0,21% um mês antes.

Apesar da pressão de produtos e serviços como remédios, planos de saúde, energia elétrica e gasolina ? todos preços administrados pelo governo, o resultado de maio é o mais baixo para o mês desde 2000 (+0,09%), de acordo com dados divulgados nesta quarta-feira pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE).

A leitura ficou bem abaixo da média das expectativas de 30 consultorias e instituições financeiras consultadas pelo Valor Data, que apontava para um IPCA-15 de 0,26% em maio, com intervalo das estimativas de 0,20% a 0,47%.

Nos cinco primeiros meses de 2018, houve elevação de 1,23%, menor nível para o período janeiro-maio desde a implantação do Plano Real, mostrou o IBGE.

Nos 12 meses encerrados em maio, o indicador registrou aumento de 2,70%, ante 2,80% apurados no acumulado até abril.

O IPCA-15 ficou mais distante do piso do sistema de metas de inflação, de 3% neste ano ? a meta é de 4,5%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Tem sido assim desde fevereiro. A referência para o cumprimento da meta é o chamado IPCA ?cheio? do mês.

Na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) surpreendeu o mercado ao manter a taxa básica de juros, a Selic, em 6,50% ao ano, contrariando sinais prévios que o mercado interpretou como indicação de mais um corte de 0,25 ponto.

A ata da reunião do Copom, divulgada na terça-feira, mostrou que a decisão refletiu uma mudança no balanço de riscos para a inflação, promovida pelo choque externo, que reduziu as chances de a inflação ficar abaixo da meta em 2018 e 2019.

Grupos

Três das nove classes de despesas que integram o IPCA-15 tiveram queda em maio. Transportes, por exemplo, cederam 0,35%, apesar do aumento do preço da gasolina (0,81%) - em abril, esse grupo tinha aumentado 0,12%. Segundo o IBGE, o avanço do preço da gasolina foi mais do que compensado
pelas quedas de preços de do etanol (-5,17%) e da passagem aérea (-14,94%).

Responsável por um quarto das despesas das famílias, Alimentação e bebidas cederam 0,05% em maio, após avançar 0,15% um mês antes. Também com queda em maio, Artigos de residência diminuíram 0,11%, reflexo do item TV, som e informática (-1,47%).

No lado das altas, Saúde e cuidados pessoais avançaram 0,76%, maior impacto no índice do mês, com elevação de 0,09 ponto percentual. A pressão foi exercida pelos itens plano de saúde (1,06%) e remédios (1,04%), que sofreram reajuste anual partir de 31 de março.

Em Habitação (0,45%), o destaque foi o item energia elétrica, que avançou 2,18%, o maior impacto individual no índice de maio. Além da entrada em vigor da bandeira tarifária amarela, houve reajustes de tarifas em Salvador, Porto Alegre e Recife.

A alta do grupo Despesas Pessoais foi de 0,14%. Educação avançou 0,11% e Comunicação, 0,14%. Vestuário teve elevação de 0,52%.


Fonte: Valor - Macroeconomia, por Bruno Villas Bôas, 23/05/2018