Hoje o Bradesco tem 3 mil funcionários participando de uma prova de conceito em uma plataforma que ajuda o gestor de pessoas a se tornar digital e leva rotinas trabalhistas para o celular dos executivos da área e dos funcionários. Se o resultado for satisfatório, essa tecnologia chegará aos 106 mil colaboradores da casa. Mas, para isso, a folhacerta, dona do projeto, tem de mostrar na prática o impacto que pretende causar em um dos maiores bancos do Brasil.

A plataforma busca minimizar erros nas atividades de empresas intensivas em contratação de pessoal, tais como pagamentos de horas, assinatura eletrônica, descontos equivocados, férias vencidas, escala de trabalho e, especialmente, controle de ausências - o primeiro módulo que começou a ser implantado no mês passado na Cidade de Deus, sede da instituição.

"Nossa jornada termina em julho e nesse período temos a oportunidade de ganhar mercado tanto como cliente do banco, quanto onde o Bradesco atua e com seus clientes", afirma o empreendedor Marcos Machuca, fundador da startup, uma das sete escolhidas para participar este ano do programa inovaBra, que seleciona anualmente fintechs capazes de agregar valor às linhas de negócios e processos operacionais.

Os benefícios para a folhacerta já estão acontecendo: o empreendedor fechou, no dia 16, contrato com outro banco, o ABN Amro; passa por homologação com outros dois, BNP Paribas e J.P. Morgan e vai receber sua primeira rodada de investimento-anjo por meio da Gávea Angels. "O Bradesco nos dá uma chancela incrível. Antes do banco, tínhamos seis colaboradores. Hoje, são 20. Tínhamos 5 mil funcionários de 50 empresas na nossa plataforma de serviços. Hoje são 30 mil de 160 empresas", diz.

O Bradesco faz parte de um grupo de bancos que têm se mobilizado para não perder espaço desde que a onda da revolução fintech tomou conta do mercado de serviços financeiros. As instituições perceberam que as novatas vieram para inovar e transformar a forma como as pessoas pagam, investem e emprestam dinheiro, além de desenvolverem com muito mais agilidade plataformas de serviços que estão conectados com o mundo em que atuam.

"Primeiro procuramos entender e enxergar as fintechs não como concorrentes, mas como parceiros. Tanto que o inovaBra, que começou com polos de inovação interna, entre 2010 e 2012, evoluiu com novos polos e, em 2015, abrimos para a inovação com as startups", diz Antranik Haroutiounian, diretor de pesquisa e inovação do banco. O programa já selecionou 162 empreendedores e testou 30 produtos piloto.

O inovaBra trabalha com seis polos de desenvolvimento dentro de seu ecossistema dedicado a produtos, meios de pagamentos, banco do futuro, canais digitais, seguros e backoffice, e mantém cem funcionários dedicados a essas ações. A área de pesquisa e inovação tem ainda um fundo de venture capital, o inovaVentures, com patrimônio líquido de R$ 100 milhões para investir em startups fora do banco. "Aplicamos em três e estamos avaliando outras seis fintechs ", diz Haroutiounian.

Para abrigar novos polos de inovação tecnológica, com startups, investidores, tech partners, mentores, aceleradoras, incubadoras e influenciadores, o inovaBra ocupa um prédio de dez andares na região da Paulista, em São Paulo. O espaço já está com 80% ocupado com 130 startups e 35 apoiadores. A meta é fechar o ano com 180 startups e 50 apoiadores.

O Santander também busca presença mais ativa entre as fintechs. No mundo, por meio do programa InnoVentures. No Brasil, comprou a Creditas, fintech que atua no crédito on-line com garantia e a Superdigital, plataforma de meios de pagamentos que também realiza transações e transferências e hoje tem 1 milhão de clientes. "São 40 milhões de brasileiros não bancarizados. Esta tecnologia da Superdigital pode ajudar na bancarização dessas pessoas", diz Fernando Miranda, que acaba de assumir a área de novos negócios do banco, área onde as fintech ficam alocadas.

A plaforma da Superdigital busca outros dois públicos, os millennials e os recebedores de salários. "Estamos transformando a Superdigital de fintech de meios de pagamentos em conta digital, com todos os produto e serviços do banco, menos crédito", diz.

No Brasil existem mais de 400 fintechs - 350 associadas a Associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs), que estima em 80% o crescimento média de fintechs em 2018. Do total, 23% atuam na área de meios de pagamentos.

Fonte: Valor - Finanças, por Roseli Loturco - para o Valor , 21/05/2018