A semana começa agitada para o mercado de câmbio, com investidores em busca de sinais sobre o rumo dos juros domésticos, à espera também de novidades do lado eleitoral. Isso em meio à reação do Banco Central, que já partir desta segunda-feira passará a colocar dinheiro "novo" no mercado para fazer frente à disparada do dólar.

Apenas na sexta-feira, a moeda americana subiu 1,55%, a R$ 3,6011. É a maior valorização em cinco meses e para o maior patamar em dois anos. Desde a mínima do ano - atingida em janeiro -, o dólar já se valoriza 15%.

Nos últimos dias, havia aumentado o coro de analistas na defesa de uma atuação mais firme do BC para conter a alta do dólar. Na sexta-feira, a autoridade monetária decidiu fazer ajustes nos leilões de swap cambiais. Na prática, as mudanças levarão o BC a fazer colocações líquidas desses contratos uma semana antes do previsto - já partir de hoje e não mais dia 21. O volume de dinheiro "novo" a ser injetado no sistema ao longo de maio também aumenta, ainda que ligeiramente: de US$ 2,805 bilhões para US$ 3 bilhões.

A forte alta do dólar já vem ditando uma piora nas estimativas para a taxa de câmbio. Na semana passada, foi a vez de Itaú Unibanco passar a ver cotação mais alta que antes. O banco espera agora taxa ao fim do ano de R$ 3,50, ante R$ 3,25 na projeção anterior. Segundo o Itaú, a estimativa de câmbio mais fraco (dólar mais alto) incorpora os impactos do diferencial de juros entre o Brasil e o mundo nas mínimas históricas.

No fim de abril, o "spread" entre a taxa embutida no contrato de swap de DI e juro prefixado de um ano e o "yield" do Treasury de mesmo vencimento caiu a 4,11 pontos percentuais. Em 2015, a diferença chegou a quase 16 pontos.

Essa queda do juro "extra" a favor do Brasil tem sido apontada por analistas como uma das principais causas da depreciação do real não só neste ano, mas desde 2017. Os profissionais chamam atenção para a alta de 10% do dólar desde 21 de março, quando o Comitê de Política Monetária (Copom) confirmou expectativas de corte da taxa básica de juros (Selic), mas surpreendeu ao sinalizar o declínio adicional da taxa esperado para esta semana.

Alguns no mercado, porém, dizem já haver justificativas para o colegiado manter os juros estáveis agora. "O BC teria argumentos para parar agora", diz Joaquim Kokudai, gestor da JPP Capital. "Além de gerar mais volatilidade na moeda, acho que a economia real sequer teria algum benefício, uma vez que o juro real de longo prazo poderia subir ainda mais [com um corte da Selic]", completa.

Estrategistas do Morgan Stanley acreditam que a decisão em si de corte de 0,25 ponto percentual do juro básico não provocaria significativa pressão no real, já que no mercado de derivativos essa já é uma aposta dada como certa. Por outro lado, é o risco de o BC manter a porta aberta para mais afrouxamento monetário que preocupa.

Oficialmente, o Morgan Stanley ainda trabalha com taxa de câmbio de R$ 3,10 para o fim deste trimestre e de R$ 3,40 ao término de setembro, mês que antecede as eleições presidenciais.

Para Gustavo Rangel, economista-chefe do ING em Nova York, a ausência de um sinal mais claro do BC sobre o fim do ciclo de distensão monetária poderia adicionar um "significativo" viés de baixa para a taxa de câmbio. "Mas, para além da decisão [da Selic], a perspectiva para o real continua sob o peso do persistente risco político, que deve elevar a demanda por "hedge" cambial antes das eleições de outubro", afirma o economista. Ele vê, até as eleições, chances de o dólar voltar a testar máximas históricas em torno de R$ 4.

O risco político, inclusive, voltou a ser citado na semana passada como fator a pesar sobre o câmbio de forma mais acentuada. Luis Laudisio, operador da Renascença, diz que o mercado buscou na sexta proteção contra cenários em que candidatos menos entusiastas das reformas econômicas ganhem espaço nas próximas sondagens eleitorais. Hoje, será divulgada a pesquisa CNT/MDA sobre intenções de voto à Presidência da República. (Colaborou Eduardo Campos)

Fonte: Valor - Finanças, por José de Castro , 14/05/2018