A produção industrial brasileira recuou 2,4% em março, ante fevereiro, mês cuja queda foi revista de 0,7% para 1%, informou ontem o IBGE. É a segunda taxa negativa seguida na série com ajuste sazonal, após nove meses consecutivos de crescimento. Em relação a março de 2020, quando a indústria tombou 7,9% no primeiro impacto da covid-19 sobre a atividade no país, o setor avançou 10,5%.

A indústria fechou o primeiro trimestre de 2021 com queda de 0,4% em relação aos três meses anteriores, após dois trimestres seguidos de alta. Sobre o período de janeiro a março de 2020, por outro lado, tem alta de 4,4%, por causa da baixa base de comparação.

As contrações de fevereiro e março levaram a indústria a perder o ganho acumulado de 40,1% em nove meses e voltar ao mesmo patamar de fevereiro de 2020, aponta André Macedo, gerente da pesquisa Produção Industrial Mensal (PIM). Ao fim de janeiro de 2021, o setor operava em patamar 3,5% superior ao pré-pandemia. “A fotografia deste início de 2021, especialmente comparando com o fim de 2020, dá clara leitura do arrefecimento”, afirma.

O setor automotivo, que liderava a recuperação da indústria em 2020 após perdas expressivas do início da pandemia, foi a principal influência negativa de março ao cair 8,4%.

Apesar da queda, o resultado de março surpreendeu positivamente o mercado, que esperava, segundo pesquisa do Valor Data, uma retração de 3% na produção industrial do período. A GAP Asset projeta alta de 0,1% no Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre, ante os três meses anteriores, mas o número de março da indústria traz viés de alta para a projeção, segundo a economista Luana Miranda.

Indicadores antecedentes de abril sugerem contração adicional do volume de produção industrial, mas em um ritmo mais suave, dizem economistas. A XP, por exemplo, prevê -1,9%.

Em uma ponta mais otimista, Rafaela Vitória, economista-chefe do Banco Inter, diz que a indústria pode apresentar pequena expansão na margem já em abril. A recuperação, no entanto, seria modesta, pondera ela, e deve ficar mais para maio e junho, com o avanço na vacinação e a melhora nos números da pandemia.


Fonte: Valor Econômico - Brasil, por Anaïs Fernandes e Lucianne Carneiro — De São Paulo e do Rio, 06/05/2021