O governo federal subestimou a periculosidade do novo coronavírus no início da pandemia e isso provocou deficiências no combate à doença, disse o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), em entrevista coletiva, ao ser questionado sobre a atuação do governo Jair Bolsonaro na pandemia.

“Quando avaliamos o número de óbitos por milhão o desempenho do Brasil não é bom, o número de óbitos poderia ter sido menor. Lamentamos que esse inimigo perigoso tenha sido menosprezado no passado”, afirmou Zema.

O governador, no entanto, tentou amenizar a crítica, afirmando que a pandemia afligiu vários países e mesmo países mais ricos que o Brasil tiveram números altos de infectados e mortos. “Culpar é muito fácil. Dar a solução é que é difícil”, disse o governador. Zema acrescentou que países que tiveram melhor desempenho são países que ficam ilhados, como Austrália e Nova Zelândia.

Na avaliação do governador, a ciência ainda não tem conhecimento suficiente para combater o novo coronavírus. Ele comparou a pandemia aos casos de Aids na década de 1980, quando não havia muitas informações sobre as formas de transmissão, nem havia tratamento específico.

Zema disse que o Estado está em situação crítica em relação aos estoques de sedativos para intubação de pacientes de covid-19. Ele observou que os hospitais do Estado costumam trabalhar com estoque para 60 dias ou mais de sedativos, mas que hoje alguns hospitais têm insumos apenas para dois ou três dias. “A situação está crítica e amanhã poderemos ter notícias desagradáveis caso o fornecimento não seja normalizado. Estamos correndo o risco de pacientes intubados acordarem por falta de sedativos”, afirmou.

O governador observou que os hospitais compravam diretamente das indústrias, mas recentemente o Ministério da Saúde passou a concentrar as compras e não tem conseguido fazer a distribuição na velocidade necessária. “Temos tentado importar, mas sem sucesso. É um insumo que está em falta.”

Há poucos dias, o Estado enfrentou dificuldades no fornecimento de oxigênio por falta de cilindros, mas, segundo o governador, esse problema foi resolvido com a doação da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) de 100 cilindros de oxigênio.

Zema também disse que o atendimento hospitalar tem sido muito prejudicado recentemente por causa da nova cepa do coronavírus que circula no Estado, que tem uma velocidade de transmissão muito maior do que a cepa que circulava no ano passado.

“Nos preocupa muito o surgimento da cepa de Belo Horizonte, porque sabemos que toda mutação significa uma dificuldade adicional de imunização. Isso nos indica que o processo de vacinação precisa ser acelerado”, afirmou o governador.

O secretário de Estado de Saúde, Fábio Baccheretti, disse que teve reunião na quarta-feira com pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que participaram dos estudos sobre a nova variante. O secretário disse que ainda não é possível saber se a cepa de Belo Horizonte é mais letal ou se é mais contagiosa e que mais estudos serão realizados.

Baccheretti também disse que o vírus que mais circula hoje no Estado é da variante P1, do Amazonas, e que isso explica a aceleração no número de casos em Minas neste ano.


Fonte: Valor Econômico - Brasil, por Cibelle Bouças, Valor — Belo Horizonte, 08/04/2021