As medidas anunciadas nesta sexta-feira no Palácio do Planalto colocam Tesouro Nacional e Banco Central (BC) em ação para mitigar o risco de crédito de pequenas e médias empresas, que disparou nas últimas semanas por causa do coronavírus. O governo atendeu a um pedido que vinha sendo feito insistentemente pelos bancos.

É uma mudança fundamental no tratamento que a equipe econômica vinha dando até agora à crise. Os bancos públicos já haviam ampliado a oferta de crédito para capital de giro, mas fazendo valer o excesso de liquidez que já têm. Não havia risco extra para o Tesouro nessas operações.

O anúncio de hoje aproxima a reação do Brasil à de mercados como Estados Unidos e Europa, que já estão financiando diretamente as pequenas empresas, elo mais sensível aos impactos da pandemia. Conforme vem noticiando o Valor, os bancos privados alegavam que, sem os cofres públicos bancarem uma parte da conta, não haveria disposição do setor em financiar os pequenos negócios. Não era uma questão de liquidez – o BC já havia adotado medidas nesse sentido e nem por isso o crédito destravou. Era uma questão de risco.

Agora, portanto, é de se esperar que o crédito privado comece a fluir para as pequenas e médias empresas, consideradas fundamentais para atenuar o impacto da pandemia sobre a atividade econômica. Uma solução para o setor é desejável para os bancos, que nos últimos anos depositaram nessas companhias boa parte de suas apostas para crescer no crédito, enquanto as grandes empresas têm ido para o mercado de capitais.

Valor noticiou na quarta-feira que os bancos haviam feito três propostas ao governo para o financiamento à folha de pagamentos, passo considerado essencial para mitigar a alta do desemprego. Duas delas previam que o risco fosse dividido entre o setor privado e o Tesouro ou o BC. A outra previa que o governo assumisse exclusivamente essa linha. Foi anunciado hoje que o Tesouro vai bancar 85% dos R$ 20 bilhões mensais que serão concedidos para financiar o pagamento de salários. Os bancos privados entrarão com 15%. O programa tem duração de dois meses e o custo será equivalente a taxa Selic, de 3,75% ao ano, sem spread.

O BC também anunciou que poderá comprar dívida de empresas diretamente — uma proposta de emenda constitucional (PEC) está em elaboração —, o que vinha negando que faria. É outra mudança relevante de postura.

 

Fonte: Valor-Finanças, por Talita Moreira, Valor - São Paulo, 27/03/2020