A necessidade de que a reforma da Previdência seja aprovada, para que o crescimento de médio prazo se concretize, ocupou boa parte do debate de economistas e líderes que participaram ontem do Fórum Econômico Mundial, em São Paulo. Para Luis Alberto Moreno, presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), a reforma é debatida no Brasil hoje muito mais abertamente do que há uma década. "Com certeza o país está voltando [a crescer]. As estimativas de crescimento de 2,5% ou 3% [para este ano] são realistas", disse. "Mas a grande dúvida é a respeito do futuro, se o país vai construir uma possibilidade estrutural de manter crescimento."

"Há 10, 12 anos ninguém falava da reforma, ninguém queria tocá-la. Hoje todo mundo fala, mas alguém tem que fazer. É uma decisão difícil que os brasileiros terão que tomar, mas que é central para a questão fiscal", afirmou o colombiano, elogiando a "capacidade de obter acordos" da população brasileira.

Cândido Bracher, presidente do Itaú Unibanco e um dos anfitriões do encontro, também ressaltou que a recuperação da economia brasileira está ameaçada, caso o próximo presidente da República não aprove uma reforma da Previdência. "Temos tudo para um crescimento sustentável menos contas públicas em ordem", afirmou. Ele admitiu que o assunto não é fácil, mas disse que os candidatos devem falar mais do benefício do que do remédio.

Para o economista Octavio de Barros, o debate econômico "amadureceu muito nos últimos 12 meses", o que reforça as chances de que uma agenda reformista seja implantada pelo próximo presidente. O maior exemplo desse amadurecimento, segundo ele, é justamente a necessidade de aprovar a Previdência, hoje algo muito mais consensual do que há um ano. Mas há outras reformas que podem ser implantadas a partir de 2019, como aquelas que elevem a produtividade, "uma riqueza escondida do país".

Esse amadurecimento, segundo Barros, explica em boa parte o comportamento otimista recente do mercado. A ideia de que 2019 será um ano de reformas se sobrepõe às incertezas eleitorais de 2018, mantendo os ativos financeiros em patamares confortáveis, de acordo com ele.

Independentemente da agenda econômica escolhida, o candidato à Presidência que for eleito neste ano não será o único responsável por resolver  a situação do Brasil, segundo a empresária e fundadora da Magazine Luiza, Luiza Trajano. "A eleição não vai fazer milagre", disse ela a jornalistas após participar de um dos painéis do fórum. "É importante que a sociedade civil assuma o país como seu."

Para ela, "a luz no fim do túnel" é que a própria sociedade tem hoje maior consciência de que "precisa ser protagonista e não pode terceirizar" a administração do país. Não dá para esperar tudo dos políticos, é isso que está me animando", afirmou ela, que evitou traçar qualquer cenário para a
eleição. "Eu não sei o que pode acontecer. Se alguém souber, me ensina."

A empresária, que hoje é presidente do conselho de administração da empresa, uma das maiores redes de varejo do país, afirmou também que o consumo terá papel importante na recuperação econômica. "O Brasil precisa construir 23 milhões de casas próprias em dez anos para ter um nível de igualdade social. As pessoas têm direito de ter a sua casa própria, a sua geladeira, a sua televisão", disse.

Bracher, do Itaú, também afirmou que assim como as empresas estão cada vez mais voltadas a desenvolver atividades preocupadas com seus clientes, as lideranças políticas deveriam fazer o mesmo com os eleitores. "As boas lideranças são aquelas capazes de ouvir os seus eleitores", disse o executivo, durante participação no fórum. Para Bracher, o avanço da tecnologia permite hoje que os governantes ouçam as necessidades dos cidadãos. (Com Folhapress e colaboração de Vinícius Pinheiro, de São Paulo)

Fonte: Valor - Macroeconomia, por Estevão Taiar, 16/03/2018