O CEO do Fundo Soberano da Federação da Rússia, Kirill Dmitriev, anunciou ontem em Moscou acerto com a companhia brasileira União Química para fornecer 150 milhões de doses de sua vacina Sputnik V anticovid para o Brasil neste ano. Pelo Twitter, o fundo soberano anunciou também que vai nesta semana junto com a parceira brasileira pedir à Anvisa uma autorização de uso emergencial para a vacina russa no país. Uma delegação da empresa brasileira se encontrou ontem em Moscou com o executivo russo.

Em comunicado oficial, o fundo soberano primeiro informou sobre um acerto com a União Química para o fornecimento de 10 milhões de doses para o Brasil neste primeiro trimestre. O primeiro lote será entregue ainda neste mês.

O plano de fornecimento para o país é de 150 milhões de doses em 2021, mas não significa que tudo será produzido no Brasil, segundo o porta-voz. “Não revelamos ainda o plano de produção da União Química”, disse.

Segundo o fundo, a companhia brasileira começou neste mês no Brasil a produção da Sputnik V. Disse que, como parte da parceria com a União Química, facilitou a transferência de tecnologia para a produção no Brasil, incluindo documentos e biomateriais.

O porta-voz confirmou ao Valor que outras 140 milhões de doses estavam acertadas com a Bahia, Paraná e outros compradores cujos nomes não revela por enquanto.

Quando o acordo com a Bahia foi anunciado, no ano passado, o volume para fornecimento era de até 50 milhões de doses.

O preço da dose da Sputnik V é de menos de US$ 10, o que a torna viável para países em desenvolvimento, na avaliação em Moscou.

O fundo informou que com a União Química está começando a vacinação de brasileiros. Os primeiros são 20 brasileiros trabalhando na embaixada na Rússia.

Segundo os russos, o fundo e a União Química vão propor aos outros membros do Brics - China, Índia e África do Sul, além de Brasil e Rússia - a criação de uma “task force” para combater a covid-19 e cooperar na área de vacinas. A Sputnik tem eficácia de mais de 90% com proteção contra casos severos da covid-19, segundo os russos. Já foi aprovada emergencialmente em Argentina, Bolívia, Venezuela, Argélia, Sérvia e Palestina.

No total, a Rússia diz ter acordos com mais de 50 países para o fornecimento de 1,2 bilhão de doses neste ano. A capacidade de produção até agora está limitada a 500 milhões de doses, incluindo a fabricação em países parceiros, mas a ideia é expandir essa capacidade.

“Nossos parceiros da União Química estiveram entre os primeiros no mundo a mostrar interesse na Sputnik V”, disse Kirill Dmitriev. Destacou a cooperação para fornecimento e produção para começar a população brasileira “o mais rápido possível”. Insistiu que a vacina é segura e eficaz. E que alguns países da América Latina já começaram a vacinar sua população usando a Sputnik V “e esperamos que o Brasil vai se juntar a eles nas próximas semanas”. No total, mais de 1,5 milhão de pessoas já foram vacinadas com a Sputnik V.

O presidente da União Química, Fernando De Castro Marques, disse que a expectativa é protocolar junto à Anvisa o pedido de uso emergencial da vacina Sputnik V. Segundo ele, que está em Moscou em conjunto com mais sete executivos do laboratório, a companhia, o fundo russo e o Instituto Gamaleya, estão refinando os documentos para apresentar à agência.

“Assim que completar a documentação devemos entrar com o pedido. A maior parte dos problemas é de entendimento”, disse Castro Marques. “Os russos têm uma forma diferente de lidar com as coisas dos europeus e dos americanos. Então, estamos mostrando o que a Anvisa quer, como funciona o sistema regulatório brasileiro. Mas, não é nada que atrapalhe. É uma sintonia fina.”

O executivo ressaltou que o acordo de 150 milhões de doses para o Brasil prevê que serão produzidas pela União Química e importadas da Rússia. A fábrica da brasileira, a Bthek, em Brasília, terá capacidade de produção de 8 milhões de doses mensais. (Colaborou Ana Paula Machado, de São Paulo)


Fonte: Valor Econômico - Brasil, por Assis Moreira — De Genebra, 14/01/2021