Com o interesse maior de famílias em quitar dívidas, a parcela dos que se declararam endividados chegou no fim do ano passado ao menor nível em seis meses. Ao mesmo tempo, a parcela de renda mensal familiar comprometida com pagamento de empréstimos registrou, ao término de 2018, o menor patamar em oito meses, segundo pesquisa da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).

No levantamento, 59,8% das famílias admitiram débitos no último mês do ano. O resultado é o mais baixo desde junho de 2018 (58,6%). A parcela das famílias endividadas era de 60,3% em novembro de 2018 e de 62,2% em dezembro de 2017. Já a fatia de orçamento familiar destinada a pagar empréstimos foi de 29,3% no último mês do ano passado, ante 30,1% em dezembro de 2017 e 29,4% em novembro de 2018 - foi o melhor resultado desde abril do ano passado (29,2%).

Para Marianne Hanson, economista da CNC, melhores condições de pagamento de empréstimos, com juros mais baixos, além de recursos adicionais - como recebimento de bônus e de parcela de 13º salário no fim do ano -, explicam o resultado.

Na avaliação da especialista, a tendência no médio e no longo prazo é que as famílias tenham mais espaço no orçamento para novos acessos a crédito. "Temos espaço para expansão de crédito pelo próprio fato de que houve redução no endividamento. Ou seja, mais espaço para acomodar novos empréstimos", disse.

Com o recuo no volume de endividados, diminuiu também o ritmo de inadimplência. A parcela de endividados que informaram dívidas em atraso foi de 22,8% em dezembro, inferior à de novembro do ano passado (22,9%) e à de dezembro de 2017 (25,7%). Já o percentual dos que informaram não ter condições de pagar foi de 9,2%, menor do que a de novembro do ano passado (9,5%) e a de dezembro de 2017 (9,7%).

Além de pagamento de bonificações e condições melhores de quitação, um dos aspectos que contribuíram para diminuição de endividamento das famílias são sinais de melhora no emprego. As mais recentes pesquisas sobre mercado de trabalho mostram indícios de maior abertura de vagas - principalmente no mercado informal. Isso na prática eleva renda, e traz maiores condições para quitação, observou Marianne.

No entanto, ela fez uma ressalva. A técnica lembrou que o novo governo, está conduzindo uma série de mudanças na política econômica que podem afetar perfil de endividamento do brasileiro ao longo deste ano - como sinais de alterações em condição de crédito imobiliário. "Precisamos observar o que vai acontecer nos próximos meses", finalizou Marianne.


Fonte: Valor, por Alessandra Saraiva - do Rio, 10/01/2019